FELINA A gata prenhe, de primeira barriga, olha absorta, sem nenhuma perspectiva, o horizonte longínquo. Eu, absorta, olho, p...

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FELINA
A gata prenhe, de primeira barriga, olha absorta, sem nenhuma perspectiva, o horizonte longínquo. Eu, absorta, olho, prenhe, a perspectiva longínqua de algum horizonte.

Recentemente, fiz a leitura do livro Aprendendo a viver, do filósofo espanhol Lúcio Anneo Sêneca. É uma coletânea de cartas que ele escr...


Recentemente, fiz a leitura do livro Aprendendo a viver, do filósofo espanhol Lúcio Anneo Sêneca. É uma coletânea de cartas que ele escreveu para Lucílio, seu amigo e interlocutor.

Conheci o antigo slogan da Rádio Jornal do Commercio, em fins dos anos de 1950, quando aportei no Recife para os estudos primários. Logo p...

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Conheci o antigo slogan da Rádio Jornal do Commercio, em fins dos anos de 1950, quando aportei no Recife para os estudos primários. Logo percebi como aquilo enchia de orgulho o peito de muita gente. Não menos, o de vários colegas de escola. “Rádio Jornal do Commercio. Pernambuco falando para o mundo”, dizia, a todo momento, um locutor de voz grave, clara e pausada.

A nuvem sai do vermelho abrasivo e paira no ar a partir da madeira negra transformada pelo fogo. Pequenas labaredas que ameaçam explodir ...

A nuvem sai do vermelho abrasivo e paira no ar a partir da madeira negra transformada pelo fogo. Pequenas labaredas que ameaçam explodir a qualquer momento estrelam ferozmente. O som assemelha-se ao do partir de um graveto, mas é a força do calor violento do carvão. O pedaço de madeira transformado em combustível canta para o preparo do alimento.

Provavelmente os queridos leitores já ouviram falar da empresa Agroceres, potência da agricultura nos mais diversos segmentos do tal agr...

Provavelmente os queridos leitores já ouviram falar da empresa Agroceres, potência da agricultura nos mais diversos segmentos do tal agronegócio. Porém duvido muito que vocês conheçam a história de Antônio Secundino.

Nasceu nos cafundós de Minas, filho de pequenos agricultores. Seu pai morreu quando ele era criança e sua mãe, que mal sabia ler e escrever, convenceu um vizinho que estivera 3 anos na escola a ensinar o básico do básico ao menino. Em troca presenteava esporadicamente o professor com uma galinha ou um bacorinho.

Quem somos nós, assim encerrados em corpos sexuados, construídos enquanto natureza, passageiros de identidades fictícias, construídas em c...

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Quem somos nós, assim encerrados em corpos sexuados, construídos enquanto natureza, passageiros de identidades fictícias, construídas em condutas mais ou menos ordenadas? Quem sou eu, marcada pelo feminino, representada enquanto mulher, cujas práticas não cessam de apontar para as falhas, os abismos identitários contidos na própria dinâmica do ser.
Tânia Swain

Espelho do outono Miro o espelho do outono estarrecida Os olhos como o fundo De um rio vasculhado... O tempo não perdoa. N...

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Espelho do outono
Miro o espelho do outono estarrecida Os olhos como o fundo De um rio vasculhado... O tempo não perdoa. Novo prazo foi dado para a vida Mesmo assim Um velho rio do medo Com o resíduo das cheias Corre dentro de mim.

É espantosa a força ou a permanente novidade de certos livros. Li “O vermelho e o negro”, de Stendhal, na idade exata do seu protagoni...

flamboyant sombra leitura

É espantosa a força ou a permanente novidade de certos livros.

Li “O vermelho e o negro”, de Stendhal, na idade exata do seu protagonista. Ele no 1830, a viver febrilmente o longínquo 18 Brumário do jovem general Bonaparte; eu aqui no bairro da Torre, 120 anos depois e na sua mesma idade, querendo atalhar seus passos, pois antevia, afundado na leitura, que pelo tipo que se desenhava, pelo seu bonapartismo, iria, como se impusera, colar o rosto e beijar a mão da patroa, a nobre e belíssima sra. de Renal, mulher do prefeito, em cuja casa havia pouco o acolhera como preceptor das crianças. O cálculo, o ímpeto,

Muitos estudiosos da literatura brasileira – do quilate de Otto Maria Carpeaux, José Guilherme Merquior, Luís Augusto Fischer e José Cas...

literatura estilo cronica rubem braga
Muitos estudiosos da literatura brasileira – do quilate de Otto Maria Carpeaux, José Guilherme Merquior, Luís Augusto Fischer e José Castello – dão a entender, curiosamente, em algumas de suas análises, que o nosso país parece ter grande afinidade com gêneros artísticos menores ou, pelo menos, considerados pela crítica como menores, tais como a crônica e a canção popular, em detrimento de outros tidos como maiores, como o romance e a sinfonia. Isso ficou mais evidente após a explosão da cultura de massa em nosso mercado moderno do século XX: corria

Eram três sítios, um pertinho do outro lá nas brenhas do mundo. Os proprietários, Zé Belarmino, Tião Frozino e Juca Damasceno eram amigos...

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Eram três sítios, um pertinho do outro lá nas brenhas do mundo. Os proprietários, Zé Belarmino, Tião Frozino e Juca Damasceno eram amigos, vizinhos e compadres. Ali na roça, distantes do que chamamos inapropriadamente de civilização, o que mais sabe se fazer é menino. Daí a prole grande nas três sitiocas. Nossos amigos aí de cima batizavam os filhos um do outro e as esposas, nessa ordem, Dona Noquinha, Dona Ester e Dona Tianinha eram, como não podia deixar de ser, comadres.

Nasci em 1949, ano em que os comunistas venciam a guerra civil na China e soviéticos e americanos intensificavam a disputa pela hegemonia ...

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Nasci em 1949, ano em que os comunistas venciam a guerra civil na China e soviéticos e americanos intensificavam a disputa pela hegemonia mundial. Portanto, vim ao mundo ainda nos primórdios da Guerra Fria. Em certa medida, sem exagero, depois de tudo que presenciei na História, durante todos esses anos, posso me imaginar um sobrevivente.

No excepcional livro O Mundo Assombrado pelos Demônios, Carl Sagan escreve sobre a curiosidade de crianças: “Eu vejo que muitos adultos...

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No excepcional livro O Mundo Assombrado pelos Demônios, Carl Sagan escreve sobre a curiosidade de crianças:

“Eu vejo que muitos adultos se incomodam quando crianças pequenas fazem perguntas científicas. Por que a Lua é redonda? a criança pergunta.

Sempre que pergunto em classe qual o oposto da hipérbole, a turma responde que é o eufemismo. Não me deparei c...

Sempre que pergunto em classe qual o oposto da hipérbole, a turma responde que é o eufemismo. Não me deparei com esse equívoco apenas em sala de aula – também o constatei em portais de língua portuguesa.

A verdade é que o contrário da hipérbole não é o eufemismo. Essas figuras não podem se contrapor, uma vez que se situam em áreas diferentes. A hipérbole diz respeito ao “pathos” (paixão), enquanto que o eufemismo está ligado ao “ethos” (caráter).

Meu amigo Chico Viana escreveu, semana passada, sobre as máscaras da pandemia , essas que temos usado nos últimos dois anos, de todas as c...

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Meu amigo Chico Viana escreveu, semana passada, sobre as máscaras da pandemia, essas que temos usado nos últimos dois anos, de todas as cores, formatos e preços. Escreveu, como sempre, com toda a graça de escritor consumado que é, e com a propriedade de intelectual atuante, que é também. Li seu texto, gostei e fiquei pensando sobre outras máscaras que não as da pandemia, aquelas que usamos, todos nós, a vida inteira, nas relações interpessoais cotidianas, e que quase sempre não são vistas pelos outros (muitas vezes nem por nós próprios) mas por todos pressentidas, intuídas, sabidas. É dessas que quero tratar agora, esperando que Chico delas se ocupe mais à frente, melhor que eu, naturalmente.

Paraíba, 27 de março de 2022

Paraíba, 27 de março de 2022

Quando pensamos ter esgotado todo o acervo de orações, vemos que a sintonia com os elevados estados de espírito é infinita. Em cada dia, a...

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Quando pensamos ter esgotado todo o acervo de orações, vemos que a sintonia com os elevados estados de espírito é infinita. Em cada dia, a conexão com o Cosmo pode ser diferente. Mesmo respeitando preces historicamente tradicionais, como a de Cáritas, São Francisco, Pai Nosso, Credo, Ave-Maria e outras, o conceito de oração não se reflete exatamente em repeti-las. Ainda que, como atestam estudiosos do magnetismo e das energias vitais, o “Pai Nosso” tenha o poder de um mantra.

A casa na Almirante Barroso, abrigo do médico, humanista, culto, simples. Cheguei por lá, em verde juventude, o abraço largo. Nas prazer...

oscar de castro
A casa na Almirante Barroso, abrigo do médico, humanista, culto, simples.

Cheguei por lá, em verde juventude, o abraço largo. Nas prazerosas cadeiras de balanço, começamos a conversa. Havia nele uma dimensão de transcendência e de acolhimento naturais encarnados em seu ser de agradável cosmopolitismo que se espraiava pelos problemas gerais. A noite esplêndida, enxuta: no céu o fruto branco da lua madura.

Para José Ramos Tinhorão, um dos mais rigorosos pesquisadores da música popular do Brasil, ele representava: “um dos mais surpreendente...

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Para José Ramos Tinhorão, um dos mais rigorosos pesquisadores da música popular do Brasil, ele representava: “um dos mais surpreendentes exemplos das alturas a que o puro talento intuitivo e a sensibilidade natural podem conduzir um artista do povo, apesar de todas as barreiras levantadas ante os humildes. Negro, pobre, desprovido de beleza física, educação escolar limitada ao primário e jamais integrado de forma duradoura à estrutura do trabalho (foi aprendiz de tipografia, pedreiro, pintor de paredes, guardador e lavador de carros, vigia de edifícios e contínuo de repartição pública) [...] parece ter tirado de todas essas desvantagens o vigor da sua criação”.

São sempre tempestuosas as águas de março. Abrindo a crônica de 1817, que passa de um volume a outro das “Notas”, o guardião-mor da nossa ...

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São sempre tempestuosas as águas de março. Abrindo a crônica de 1817, que passa de um volume a outro das “Notas”, o guardião-mor da nossa história, o historiador Irineu Pinto, teve a lembrança de falar dos dias chuvosos que encharcavam os caminhos de cana chapinhados madrugada a dentro pelos revolucionários de Pilar e Itabaiana, os condutores do movimento revoltoso contra o absolutismo de Portugal e pela república do Nordeste.

Quando a Magnum Photos publicou esta imagem, em 2016, no dia em que Robert Redford completou 80 anos, a reação foi raivosa. “Não, Redford...

robert redford oitenta anos velhice transitoriedade vida
Quando a Magnum Photos publicou esta imagem, em 2016, no dia em que Robert Redford completou 80 anos, a reação foi raivosa. “Não, Redford merece outra coisa. Ele não está a serviço da arte do fotógrafo, mas o contrário”, disse um comentarista. Outro emendou:

Instigante, o mais recente livro de Hélder Moura, O princípio da diversidade e outros anarquismos: textos pandemônicos (João Pessoa, Idei...

critica literaria helder moura filosofia anarquia
Instigante, o mais recente livro de Hélder Moura, O princípio da diversidade e outros anarquismos: textos pandemônicos (João Pessoa, Ideia, 2021). Lançando mão de um recurso habitual na literatura – o autor que se faz editor – e estando na boa companhia de Tomás Antônio Gonzaga, José de Alencar e Aluísio Azevedo, Hélder diz ter recebido os manuscritos de um falecido amigo de longas datas, de nome Bakunin, tornado “Bacurim”, pela zombaria outrora natural de crianças e adolescentes, uns com os outros; amigo anarquista por excelência,

São tantas as afinidades entre as Memórias e a ficção romanesca, que a aproximação entre as duas espécies narrativas se impõe, naturalment...

São tantas as afinidades entre as Memórias e a ficção romanesca, que a aproximação entre as duas espécies narrativas se impõe, naturalmente. Encontrando-se algo de romance em toda memória e muito de memória em quase todo romance.

Parecia real, era como se os sinais acordassem em mim e apontassem, “vai por aí”. Lembrei das intuições, dos tempos de leitura quando ...

machismo hipocrisia desesperanca politica brasileira
Parecia real, era como se os sinais acordassem em mim e apontassem, “vai por aí”. Lembrei das intuições, dos tempos de leitura quando garoto, de madame Blavatsky, de Krishnamurti, de Hesse, de Aldous Huxley e reconsiderei recuperá-los todos hoje.

Era vermelha e branca. Tinha dois espelhos retrovisores com boa visão de tudo aquilo que atrás estivesse. Tinha um farol para clarear a no...

nostalgia bicicleta farol dinamo assombracao
Era vermelha e branca. Tinha dois espelhos retrovisores com boa visão de tudo aquilo que atrás estivesse. Tinha um farol para clarear a noite e o dínamo para fornecer a eletricidade capaz de acendê-lo.

Trazia uma bomba para encher os pneus quando secassem e uma bolsa atada ao quadro, logo abaixo da sela, para guardar duas chaves de boca com as medidas, ali, de todas as porcas e parafusos.