A nossa opção por Tarcisio Burity ao lembrar seu nome num painel de homenagens aos 80 anos da Academia Paraibana de Letras, acontecimento ...
O governo cultural de Tarcísio Burity
NENHUM OLHAR Nem um olhar Nenhum olhar Que ninguém veja. Há apenas o silêncio Em conserva, Preservando nosso Sopro de vida, Esse ...
Temporal
Nem um olhar Nenhum olhar Que ninguém veja. Há apenas o silêncio Em conserva, Preservando nosso Sopro de vida, Esse vento de morte Essa boca atada, Calada sobre tudo, Prostrada sobre o mundo. E eis que sou convocado A acordar o mundo Depois que o imundo Interceptou o sexo, Tomou-me sem nexo, Depois que o verbo Foi adjetivado. Descobri que não sei A gramática dos afetos. A sintaxe do tempo Virou somente ausência, Semântica sem morfologia, Afônico amor, A nos sugerir A preposição do (per)verso Na conjunção da carne. Todo silêncio é refletido Quando a voz é passiva. Todo silêncio é reflexo Da voz ativa. Sinto falta da voz recíproca. Eu quero um “a gente” Paciente. Eu quero um nós Que possa ser Conjugado em todo Tempo, modo, pessoa. Quero um sujeito plural Que seja singular.
Tempo (in)vestido nos teus olhos. Tenho revertido em meus olhos o íntimo que já não se intimida, ao revelar uma eternidade que já se mostra utópica. Nostalgia talvez seja o ressentimento de todas as expectativas frustradas pelo eu e as circunstâncias às quais nos rendemos e de que somos reféns Se ao menos eu pudesse ser mais pai de mim quanto Deus é do nada, mas eu sinto que há um Tudo que se emerge nos delicados sinais: Ele está no aparente desconexo, no surpreendente sexo, suspenso num abraço infantil.
Sigam meu conselho; pulem a fase de pais, sejam avós diretamente, sem escalas. Dona Creusa Pires dizia que casa de avô é cabaré de neto. É...
Avô dá de dez em pai
O assunto que tem ecoado bastante nas páginas de arte e cultura do Brasil é a acusação de plágio contra a cantora Adele, vencedora de um t...
‘Mulheres’, Adele e plágio
Quo Vadis Sou um devoto de pernas tortas, um desequilíbrio me preenche, uma crença na embriaguez (Um tom de cor que não percebem...
Um certo mormaço
Sou um devoto de pernas tortas, um desequilíbrio me preenche, uma crença na embriaguez (Um tom de cor que não percebem os olhos claustrofóbicos) Conforme os cartazes, não existo, uma impossibilidade me percorre como um sangue incolor
Quem valoriza produtos orgânicos, não resiste à uma banca de frutas em plena estrada... e, se existe uma falta real de uma apreciada, just...
Nada com açúcar
Restou-me de alguma leitura uma frase que, como a água do pote a que se refere, parece-me inesgotável. A frase de duas linhas sugere a via...
A Rua Direita
A ela vem juntar-se o parecer de um velho advogado da antiga amizade que me vendo chegar e sentar a seu lado, no lugar e hora de sempre, em tempos da sede central do Cabo Branco, tentou me adivinhar: “Você ri como defesa, para se enganar, mas o banzo é seu natural”. Ficávamos na calçada do clube, sob uma empanada que encobria a visão inquisitorial da Misericórdia. Já aposentado, doutor Jeremias Maurício de Sena mantinha lugar cativo entre os convivas, sempre reservado, ouvindo uma hora para falar um minuto. Eu ainda moço, sem escola formal, era atraído pela sabedoria menos despretensiosa daquele amigo velho. Sabedoria da lei e da vida.
No universo dos mitos, a origem do mundo é feminina. A narrativa que conta a origem do universo, a Cosmogonia, apresenta as quatro Forças...
O universo mítico e a representatividade das deusas
Toda manifestação homofóbica se resume na falta de amor, de respeito para com o próximo, com a comunidade e com a vida íntima alheia. Resp...
Isso é amor
Muito nos impressionaram as notícias recentemente divulgadas sobre a maneira discriminatória com que o empresário depoente na CPI da Covid se referiu ao senador Fabiano Contarato, bem casado há mais de uma década com o fisioterapeuta Rodrigo Groberio, com quem tem dois filhos. Infelizmente isso ainda acontece, conquanto vivamos uma época em que o preconceito e a discriminação, sob qualquer forma, têm sido rejeitados pela sociedade pensante, com ênfase na mídia nacional e internacional, inclusive no Jornal A União, que dedica amplos espaços de abordagem correta acerca da diversidade humana, com séria rejeição a manifestações de comportamento homofóbico.
A ciência da psique já atestou que não há possibilidade alguma de redirecionamento de perfil sexual através de nenhuma terapia. A tendência para comunhão afetiva entre iguais é visceralmente pessoal, espontânea, e pode variar com as condições, o meio, as emoções e todo um contexto que envolve cada individualidade. Além de ser uma questão puramente pessoal e que não diz respeito a ninguém, as modernas pesquisas científicas apontam para que a tendência à comunhão afetiva entre pessoas do mesmo sexo pode até vir na genética, com a própria vida, ou na formação biológica. Por isso que a OMS a retirou de sua lista de doenças, desvios ou perturbações psíquicas, há algum tempo.
Há meia dúzia de anos, foi espantosa a repercussão positiva em cidades do mundo inteiro por conta da decisão da Corte Suprema dos Estados Unidos reconhecendo o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Curiosamente, a mesma decisão de nosso Supremo Tribunal Federal, há alguns anos, não teve igual acolhimento da opinião pública, ainda que o nosso país haja se antecipado, estendendo os direitos matrimoniais por unanimidade.
Chico Xavier, eleito em votação nacional como o “Maior brasileiro de todos os séculos”, aborda o assunto de forma sensata e educativa, no livro Vida e Sexo, ditado pelo espírito Emmanuel:
Como símbolo de uma vida dedicada ao amor fraterno com uma produção de centenas de livros, dos quais nunca se disse autor e não quis receber nem um centavo, tendo doando às causas sociais todos os lucros obtidos, Chico coloca o amor muito acima da identidade de gênero. Afinal, espírito não possui sexo e o sentimento entre eles, que é o que perdura além da vida material, está em outro nível. Jamais deveria incomodar a quem quer que seja.
E prossegue:
Chico Xavier conclui brilhantemente, com a dignidade que pautou seu exemplo de amor:
Isso é amor!
Não há seringueiras na Rua das Seringueiras, assim como não existem imburanas na Rua das Imburanas ou pinheiros na via batizada com o nome...
Sentido das ruas
Uma pena não encontrar as belas cerejeiras no logradouro que homenageia a planta símbolo do Japão. Decepcionante também não descobrir um lugar cheio de flores na Rua das Flores. Afora o nome poético, a foto revela um lugar comum.
O budismo, cuja filosofia me interessa muito, diz que nós inventamos desejos e nos tornamos dependentes deles. Sei disso a partir de vária...
A morte virtual
Não conheço ninguém que gostou do cigarro da primeira vez que provou. Gosto ruim na boca, tontura, enjoo. Com o tempo, a pessoa aprende a gostar, e vou dizer, pense numa coisa difícil de largar. Quem já fumou sabe disso. Conheço muita gente que largou há anos e ainda sente falta. Não é o meu caso. Foi a própria filosofia do budismo que me ajudou nesse sentido. O meu pensamento foi simples: se eu já vivi sem isso, posso voltar a viver. Assim consegui me livrar de um mau hábito que mantive por muitos anos e, o que é pior, consciente dos prejuízos que aquilo me causava.
Vez por outra penso nisso com relação às redes sociais. Lembro quando uma amiga me sugeriu abrir uma conta no Facebook. Fui resistente no início, mas cedi. Foi muito interessante começar a encontrar amigos que não via há algum tempo, familiares que estavam morando fora, curtir postagens engraçadas, músicas, fotos, fazer amizade com gente que não conhecia "em carne e osso". Com o passar do tempo, fui me animando e comecei a escrever alguns textos e publicá-los ali. As pessoas interagiam, curtiam e isso foi se tornando cada vez mais divertido. Uma ou outra treta também acontecia, mas era algo raro.
Um dia escrevi um texto chamado "Você não é obrigado a nada". Postei e, de uma hora para outra, centenas de pessoas estavam me solicitando amizade. Essa frase até virou "meme" ou o "meme" serviu de mote. Isso foi em 2015 e esse texto continua sendo muito compartilhado. A experiência permaneceu interessante e segui escrevendo e postando. Novos amigos foram chegando, alguns passaram a me ajudar, corrigindo erros, incentivando que escrevesse mais, sugerindo temas. Algumas deles, até viajei para conhecer pessoalmente. Outros, recebi aqui em João Pessoa, inclusive na minha casa. Não me desapontei. Pelo menos os que encontrei aqui, em São Paulo, Curitiba e Fortaleza foram do tipo "o santo bateu".
Continuei escrevendo e fazendo amigos novos e antigos. E a outra verdade é que criei uma necessidade. O Facebook passou a fazer parte da minha vida diária. E deve ser assim na vida de muitos. Plataforma política, paqueras, muro de lamentações, poesia, literatura, humor, gente talentosa e, claro, coisas desagradáveis também. As últimas eleições presidenciais exacerbaram demais o lado tóxico das redes.
Cancelamento, linchamento virtual, agressividade, intolerância.
Muitos começaram a abandonar a interação para se protegerem. Sim, tudo pode se tornar nocivo. Mas, preciso admitir, para mim sempre foi mais prazeroso do que ruim. Vez por outra acontece de retirar alguém do meu grupo de amigos ou de ser retirado. Enfim, é o mundo virtual permitindo que você "dê sumiço aos seus desafetos".
De todas as gostosuras que essa rede me trouxe, o contato com o povo das artes foi a coisa mais gratificante. Poetas e escritores que admiro interagindo comigo. Artistas plásticos que amo, atores e atrizes, músicos, palhaços. E pessoas interessadas nesse universo, que fazem postagens lindas, divertidas e inteligentes.
A semana passada, levei um susto gigante. Um amigo comentou a minha idade e fui nas minhas informações ver o que estava ali registrado. Minha conta foi desativada. Não foi bloqueio, coisa pela qual alguns têm passado. Simplesmente recebo um aviso que não tenho idade suficiente para usar o Facebook e por isso não tenho acesso à minha conta. Eles me pedem que mande um documento de identidade, que comprove meu tempo no planeta, mas de nada adianta. Que sensação horrível. Foi como se tivesse chegado em casa de uma viagem e a encontrasse completamente vazia, saqueada.
Aquilo me deu um desamparo enorme. Bia, minha amiga, falou em "morte virtual". E foi assim que me senti. Pensei numa música em que Gil fala da morte. Eu "morri" mas ainda estava lá. Me botaram para fora da festa. Desapareci para meus amigos, que ficaram sem saber o que aconteceu. E cada vez que lembro de alguém que gosto ou de um texto que não salvei meu peito congela.
Ainda conversando com Bia, ela me perguntou se vou criar nova conta. Respondi que não sei, que talvez eu ressuscite no sétimo dia. Ela falou — entendendo ao que me referia — que é no terceiro. Sete foi a criação do mundo. Rimos juntos e já surgiu a ideia para a primeira música da TRILHA SONORA: Meu Mundo Caiu, de Maysa
As outras são:
A pandemia não foi de todo embora; persiste em casos esparsos, que assustam e às vezes matam. Ainda assim, é grande a pressa das pessoas p...
Alívio e culpa
A casa existe como um contraponto da rua, é o lugar para onde se volta depois de sair (com todas as ressonâncias simbólicas que esse gesto possui).
Alcançar a plenitude da vida exige sacrifícios, algumas dores e inúmeras inquietações. Do desejo à concretização, é preciso ser paciente...
Ainda mais fortes, seguimos...
Do desejo à concretização, é preciso ser paciente! É imprescindível acreditar no que se faz e naquilo que, verdadeiramente, se quer alcançar!
Somente após este inquietante processo interno, a vida se exterioriza, revelando a mais absoluta das belezas e plenitudes!
Angela Merkel, a primeira-ministra alemã, como se sabe, está se aposentando, após quase vinte anos à frente do governo do mais importante ...
Vá entender
Quem passou dos 60 e viveu a infância no interior, certamente, lembra disso. Os grãos – esverdeados e separados em duas bandas – chegavam ...
Com o gosto da saudade
Na minha e na casa de muitos, qualquer que fosse a região do País, o melhor café não vinha empacotado das prateleiras de armazéns, ou bodegas. Surgia, isto sim, dos tachos sobre fogo de lenha.
Cacos Eles me olham da gaveta invisível Com olhos de Argos Silentes e vigilantes. Reviram o instante, vasculham arredores Subi...
Podíamos voar, era tempo de milagres
Eles me olham da gaveta invisível Com olhos de Argos Silentes e vigilantes. Reviram o instante, vasculham arredores Subidas, descidas, curvas Grutas de elos perdidos. Fazem-me dar voltas sem descanso Nada me perguntam Nem dizem se já é hora...
O que mais vem me impressionando ultimamente – no que se refere a esta ... marcha ... da Humanidade – é a revisão total que tenho feito do...
Todos os que se vão conosco
Euclides da Cunha diz em “O Homem”, segunda parte de Os sertões , estarmos “condenados à civilização. Ou progredimos, ou desaparecemos” (S...
Civilização e Evolução
Bendito o tempo que conduz nossa vida, que acrescenta experiência, que nos dá sapiência, que oferece a oportunidade de construirmos nossa ...
Envelhecer
O envelhecimento vem me ensinando a viver plenamente, e a abraçar a vida com sentimentos de amor-próprio. Vejo com clareza meu sentir e o quanto sou corajosa em redesenhar o roteiro da vida. Concluo que a felicidade está em mim. Reconheço minhas imperfeições, meus medos, minha vulnerabilidade, mas sou a dona do meu espaço amoroso e nada abalará essa enorme certeza do quanto minha vida é rara e preciosa.
Dez páginas, apenas e tão somente dez páginas em corpo 10 dos velhos magazines de linotipo!... E que páginas! Há prefácios assim. Esse d...
Um prefácio à vida
Há prefácios assim. Esse de meus frequentes retornos é assinado pelo professor José Pedro Nicodemos à edição feita para publicar pela Universidade Federal da Paraíba, através de sua editora, sob recomendação de um conselho editorial dirigido por Francisco Pontes da Silva.
Tenho várias manias e cacoetes. Sobretudo uma mania que considero muito boa. Aliás, me orgulho dessa mania. Sempre me dá bons retornos. Ad...
O lado bom do Brasil real
Nascido em 1912 em Exu, Pernambuco, Luiz Gonzaga foi um dos melhores músicos e artistas que o Brasil já viu. E a maior expressão da música...
Vozes da seca
Tendo o seu pai Januário como mestre e ídolo, ele começou a vida tocando sanfona no interior do nordeste, percorrendo o polígono da seca e absorvendo toda a cultura regional, baseada principalmente no sofrimento do povo nordestino, assolado por esse flagelo.
Aos 13 anos comprou a sua própria sanfona, ajudado pelo coronel Manuel Alencar, seu protetor. Aos 17 saiu de casa para tocar no Crato, do outro lado da Serra do Araripe, e não voltou mais. Vendeu a sua sanfona e sentou praça no exército, em Fortaleza, em busca de uma renda regular. Passou nove anos.
Instalada a Revolução de 30, viajou pelo país sendo o corneteiro da tropa, e foi bater em Minas Gerais, onde mandou fazer uma sanfona e aprimorou o seu domínio, aprendendo escala musical com Domingos Ambrósio, sanfoneiro mineiro.
Depois que deu baixa, emigrou para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro, onde voltou à carreira de músico. Porém ainda não tocava músicas regionais nordestinas, senão músicas estrangeiras, nos bares e cabarés da periferia da cidade.
Até que um dia Luiz Gonzaga apresentou-se no Programa de Ary Barroso. Agradando, foi contratado pela Rádio Nacional, a poderosa e maior locomotiva que impulsionava a música brasileira da época. Assim recomeçava a carreira, que só terminaria com o seu falecimento em 1989.
Luiz Gonzaga aperfeiçoou o baião, que então era o único ritmo nordestino aceito pelos sulistas. Nos anos 1940 e 1950 era muito forte a presença do jazz, do Fox e, principalmente, do samba canção, nas noites de Rio de Janeiro e São Paulo.
Porém na Rádio Nacional a sua carreira artística deslanchou. Em 1941 ele gravou o seu primeiro disco, pela gravadora RCA Vitor.
Somente no início da década de 1950é que ele passou a compor e divulgar outros rimos nordestinos, como o xote e o xaxado.
Ao final de sua carreira, entre baiões, xotes, toadas e xaxados, Luiz Gonzaga deixou um acervo de mais de 627 músicas gravadas em 266 discos, 53 músicas de sua autoria, 233 em parcerias e 331 de outros compositores. Foram parcerias com letristas e compositores do maior quilate. Deles destaca-se o advogado cearense Humberto Teixeira, com quem, em cinco anos de parceria, compôs centenas de músicas. E depois com o médico compositor, poeta e folclorista pernambucano Zé Dantas, com quem teve produção semelhante.
Em 1950 gravou a música ao mesmo tempo bela e triste, Assum Preto, que havia feito em parceria com Humberto Teixeira, pela RCA Vitor. E em 1952 confirma o sucesso como principal divulgador da música sertaneja nordestina, gravando a toada Acauã, com Zé Dantas, também pela RCA Vitor.
No mesmo ano de 1952 grava também na RCA Vitor o baião Paraíba, lançada em 1950 com o cearense Humberto Teixeira. E aquela música que viria a se tornar o hino nacional do sertanejo nordestino, Asa Branca, que havia sido lançada em 1947 da mesma parceria com Humberto Teixeira, e também um baião. Vinte anos depois, em 1972, essa música vestiria uma roupa nova na versão espetacular do magnífico conjunto recifense Quinteto Violado. Nesta versão destaca-se memorável solo da flauta de Ciano Alves.
Anos depois Luiz Gonzaga encontrou-se com aquele que se tornou o seu herdeiro artístico natural: o também pernambucano Dominguinhos. A partir daí tornaram-se inseparáveis, em diversos espetáculos pelo Brasil.
Luiz Gonzaga era além de músico um grande artista cênico. A sua presença num palco era contagiante. São notáveis e gostosos os solos de sanfona em diversos espetáculos, como na música Samarica, Parteira. E na homenagem que fez ao jumento, que considerava irmão do sertanejo.
Ao longo de sua carreira participou de milhares de espetáculos pelo Brasil e exterior. Ele teve, então, muitos parceiros. Mas os espetáculos mais notáveis foram com Dominguinhos e com o cearense Raimundo Fagner, com memorável solo de sanfona.
Em inusitada parceria com Hervé Cordovil, Luiz Gonzaga compôs outro hino de nossa geração: o excelente e alegre Vida de Viajante , que canta junto com o filho Gonzaguinha, e contracenou com Fagner.
Ao longo da sua trajetória artística Luiz Gonzaga teve muitos e bons parceiros. Os mais conhecidos são mesmo Zé Dantas e Humberto Teixeira. Um bom exemplo, fruto dessa parceria, é O Xote das Meninas , composto com Zé Dantas e gravado em 1953 pela RCA Vitor. Nesta música Zé Dantas revelou o seu conhecimento de fisiologia e ginecologia. Também mostrou a sua veia poética, ao descrever a transição da infância para a adolescência, comparando a menina-môça com a flor do mandacaru. E ao associar ao fim da estiagem. Bonito!
Mas o escritor, historiador e jornalista investigativo Flávio Ramalho de Brito considera que o melhor de todos foi Zé Marcolino, de Sumé. E em quantidade de músicas teve João Silva, de Garanhuns.
Destaques para Pássaro Carão , música alvissareira com Zé Marcolino. E Uma Pra Mim, Outra Pra Tu , animada mazurca de quadrilha-de-São João, composta em parceria com João Silva, onde Luiz Gonzaga erra maliciosamente a divisão das mulheres do salão. Muito engraçada!
Figura discreta, João Silva compôs mais de duas mil músicas que foram gravadas por grandes nomes da música brasileira. Cem delas só com Luiz Gonzaga.
Luiz Gonzaga era muito atualizado. Como se pode ver no Xote Ecológico , que compôs com Aguinaldo Batista.
Além de músicas de Zé Marcolino, de Sumé, Luiz Gonzaga prestigiou outro autor paraibano: Rivaldo Serrano de Andrade. Pois em 1973 ele gravou a linda música Fogo-Pagou , de autoria de Rivinha Serrano, como era conhecido. Com Humberto Teixeira, Luiz homenageou o seu pai, Januário, com o delicioso xote Respeita Januário .
Sempre divulgando o folclore e a cultura nordestinos, Luiz Gonzaga compôs vário clássicos, como O Jumento é Nosso Irmão Samarica Parteira — música rica em onomatopéias, como boa parte das músicas dele —, Vem Morena e ABC do Sertão .
Pois bem: indignados com a inércia e incompetência do governo federal, presidido pelo gaúcho Getúlio Dorneles Vargas, Luiz Gonzaga e Zé Dantas compuseram a música Vozes da Seca, um brado de protesto contra o descaso que à época já era praticado contra o povo nordestino.
A letra da música é uma brilhante carta produto da indignação. Dirigindo-se respeitosamente ao presidente Vargas, inicia-se com a apresentação dos signatários, os nordestinos:
E continua com uma lembrança de que o presidente Getúlio Vargas foi eleito para governar, também, os nordestinos:
Seguido do alerta para a ampla repercussão do flagelo da seca sobre a população da época:
Em seguida dá uma aula de como se deve combater a seca e suas conseqüências:
Oferecendo ao presidente Vargas possibilidades de bons dividendos conservando a dignidade, por ser justo para com o Nordeste e o seu povo humilhado pela situação de ter se tornado pedinte:
E revela aquilo que será a redenção para o sertanejo nordestino afligido pela seca:
A canção conclui com uma advertência para o que acontecerá ao povo nordestino, se o governo federal continuar a dar-lhe as costas: tornar-se uma versão moderna do escravo histórico:
Nos dias de hoje, quando o nordestino tem sido tão discriminado por pessoas de baixo nível, racistas de outras plagas em sua maioria, concluímos que agem assim por inveja, por não aceitarem que um povo tratado como cidadão de segunda classe, possa ter dado gente de tanto valor, tanta expressão cultural, política, científica e social, entre os seus filhos.
A civilidade é um comportamento cada vez menos praticado nos tempos atuais. A sociedade contemporânea não encara mais como importante ...
Crise de civilidade
A foto de 5 crianças posando para uma simulada selfie na qual uma sandália de plástico faz a vez do celular que não possuem, é um petardo ...
Baterias da mente
Diante da foto, qualquer um de nós dá-se o direito de pensar na possibilidade daquelas crianças estarem talvez mais felizes ali, onde o princípio tecnológico da ação foi abolido em favor de uma fantasia compartilhada, do que estariam caso tivessem à mão um celular de verdade, e isso nos leva a crer na possibilidade de uma proeza metafórica poder as vezes resultar num tipo de alegria mais expansível que outras mais duramente enquadradas nos delimites da realidade,