Aquela noite da agonia derradeira, quando contemplei o rosto sereno de minha mãe na cama do hospital, segurando meu braço, ela murmurou co...
O último olhar de mamãe
Desde a infância sempre amei as mulheres. Nem mesmo a primeira decepção amorosa com Maria Dutra aos onze anos mudou isso. Até hoje os meu...
A mulher e a moda
A figura da madrasta comumente faz lembrar personagens desprovidas de afeto, inclusive estereotipadas negativamente pela sonoridade (“má”)...
A infindável recriação
Em recente releitura de O Novo Testamento, um tema saltou aos meus olhos e ensejou diversas reflexões que desejo compartilhar com os leit...
Presentes
Revisando o Evangelho de Mateus, capítulo 2, li no versículo 11 – “E, entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro, incenso e mirra.”
'Muito barulho por nada', título da peça de Shakespeare, me faz evocar o desempenho de alguns poetas cuja dicção estridente, ruido...
Retrato a giz
A poesia de Maria de Fátima de Barros Neves se impõe porque é diferente da que grita para se fazer ouvir, escutar, embora essa última quanto mais se esgoele mais faça por merecer ouvidos moucos. Claro que há poetas que gritam a plenos pulmões e têm o que dizer, a exemplo de Maiakovski e Castro Alves.
Sou do signo de Aquário. Um pé na lua. Mas meu ascendente é Câncer. Um pé enfincado na terra. Daí, passei a vida abrindo escalas. E não te...
Encaixotando Ana
Por isso, minha dificuldade com des-arrumação. Sou caótica nas gavetas. Sem método. E não sei onde achar uma tesourinha. Então, como me mudei, há 3 anos, de uma casa onde morava havia 34 anos? Falam para des-apegar. Mas essa não é a questão. Os meus “objetos sólidos” fazem parte dos meus braços e pernas. E não vejo como amputá-los. Quem vê assim, pensa que tenho coisas. E tenho.
Um dos períodos mais deslumbrantes de minha vida foi o que tive na segunda metade dos anos 60, em Pombal, indo dormir à meia-noite e despe...
Lux in Tenebris, 'luz nas trevas' para os amigos
João Cabral de Melo Neto tinha uma extrema capacidade de dar vida às coisas em seus poemas. Vejam como ele fala da faca que habita o corpo...
O que me encanta em João Cabral
Lutei para manter meus olhos abertos, acreditando que assim sustentaria o coração e o cérebro funcionando. Mantive o tempo que pude, mas s...
Um dia eu morri
Tive uma espécie de convulsão por algum tempo, com visões e sensações muito fortes. Cheguei a olhar nos olhos do homem que me socorria e ver e ouvir a voz de Deus que falava comigo. Senti a consistência do meu corpo de forma diferente; parecia uma espuma densa e macia ao mesmo tempo.
Vi-me fora dele.
Quando aqui neste texto eu empregar a palavra “milagre”, não a entendam com alguma conotação mística ou religiosa, estou apenas fazendo al...
Eu, vegano
Vamos lá.
Pense quão difícil é você acertar a sena num concurso de nossa loteria. Marcando seis dezenas sua chance seria 1 em 50.063.860. Já se você marcar 10 dezenas suas chances pulariam para 210 nos mesmos 50 milhões e mais alguma coisa. Mas isso, vemos que toda semana acontece. Então, não podemos ver o concurso de nossa Loteria Federal como algo quase impossível de acontecer.
1 A utopia da igualdade gerou algumas tiranias modernas, como o socialismo stalinista. É raro um ditador que não invoque, para conquistar ...
Do baú
Deus não concedeu a Tancredo Neves exercer em sua plenitude a Presidência da República do Brasil, mas permitiu-lhe, como mínima compensaçã...
Presidente Tancredo: o mandato de apenas 13 dias
Engenho Corredor, em Pilar, Paraíba, berço do romancista José Lins do Rego e um dos marcos da história do Nordeste açucareiro. “Engenho Sa...
O Mundo de Zé Lins
Ao fundo, resquícios da antiga moita de engenho. O bueiro legendário não mais existe. Foi levado na cheia de 1985 pelo Rio Paraíba que, agora, magro como boi em pasto seco, desliza para o mar com enganosa mansidão.
Sentado do alto da pequena colina pescava vazios espalhados à sua frente. Nos espaços da tela em branco, ia preenchendo com paisagens. In...
Cidade em pinceladas
Às margens, rápidos toques deram vida a uma vegetação de características próprias, cujas raízes desciam à terra abaixo da lama e da água, conhecedora do fluxo e refluxo das marés, batizada de manguezal. Verdes variados ao longo do dia.
Tendo assumido a APL em 14 de agosto de 1992, Tarcísio Burity era titular da cadeira número 26, que tem como patrono o padre Inácio Rolim....
A política foi a sua Esfinge
No começo, tudo era superstição, lendas e religião. Assim era o mundo antes dos gregos do século VI a.C. Como o milagre se deu permanece a...
O mistério do uso da razão
Sua tecnologia era superior. Seu conhecimento de matemática era mais profundo e abrangente. Os gregos estavam muito aquém dessas civilizações: não sabiam prever eclipses, não tinham a incrível engenhosidade para construir pirâmides, esses colossais monumentos que até hoje intrigam boa parte dos historiadores e arqueólogos.
Dois soldados, duas guerras, dois textos e dois contextos diferentes. Eis um elo entre Arthur Rimbaud (1854—1891) e Euclides da Cunha (186...
Euclides e Rimbaud
PRIMAVERAR Meu peito explode em primavera E tudo se revolve, E sonhos são gestados Em um coração inquieto. Eu gosto de primav...
Brotar em versos, primaverar
Meu peito explode em primavera E tudo se revolve, E sonhos são gestados Em um coração inquieto. Eu gosto de primaverar. Deixar florir o que há de melhor em mim Brotar em versos, Gestar meu próprio universo.
Não atuei como desejava em minha estreia no canal Youtube. Propus-me participar dos 80 anos da Academia de Letras, na comemoração a que...
As nascentes e os pássaros
Li meu trabalho de voz apagada, quase afônico, eu que sempre tentei me mostrar em público como o antigo revisor de leitura alta de A União, recém-chegado de Campina, lendo as provas tipográficas naquele timbre radiofônico da antiga Rádio Borborema.
Cansaço da idade, acredito que não, pelo menos na voz.
Perdi o tom, uma hora antes da gravação, com a notícia da morte de Clodoaldo Muniz, admiração de infância, da mesma cruzada, do mesmo grupo escolar e, diferente dos outros, preso em si mesmo, contido.
Fomos irmãos dois anos somente, de 1943, quando vim morar na rua principal de nossa cidade, a 1945, quando tive de ficar interno no Pio XI para o admissão, não só ao ginásio, mas ao seminário. Clodoaldo ia também ser padre, por vocação, mas ficou se preparando como pôde, por si mesmo, em Alagoa Nova. Viera do sertão, penso que de Catolé, tangido pela seca.
Meus outros colegas eram para as traquinagens de rua, as safadezas, eu no meio deles. Com Clodoaldo, não, era um menino que pensava, entretinha-se com a cabeça, vendo o mundo sempre bem lá fora, do batente de casa, e aprendendo na escola pública e na cruzada de padre Borges. Aprendemos juntos a ajudar a missa em latim, Teodomiro, o sacristão, na parte prática, D. Antonina, minha mãe, no dizer das palavras do acólito. Minha mãe fora criada por freiras ministradas por um padre antigo da história da terra, o padre Antunes.
Foram apenas dois anos, volto a dizer. Os setenta e seis que a vida veio nos oferecer depois foram de ausência quase completa, um sabendo do outro por ouvir dizer. Ele diácono, não chegara a padre, professor, construtor de colégios e mentor espiritual de duas freguesias, em Campina Grande e Alagoa Nova. A nota de pesar da Diocese expressa seu labor e suas virtudes.
Há um poeta, creio que Rimbaud, de quem gravei de alguma leitura uma exclamação solta, que, por isso mesmo, vem calhar em certas situações: “Como os pássaros e as nascentes ficam longe!”
Eu estava com Raimundo Asfora numa homenagem de Alagoa Nova a Luiz Avelima, poeta e militante cultural de minha terra, ele vendo e lendo tudo de São Paulo, onde se aninhou, quando Clodoaldo me avista no discurso que fazia, merecidamente, a nosso conterrâneo. E sai dele um instante: “Estou vendo daqui o filho de dona Antonina, nosso irmão.” Ora, fazia uns cinquenta anos que não nos víamos. E como o pássaro distante que vinha de longes céus e remotas fontes posar no microfone, não se contém e canta: “Dona Antonina não, corrijo-me, Santa Antonina”.
Engoli o choro, Asfora ombreando-me ao lado, chamando-me ao aperto, para desafogarmos logo depois, no primeiro bar, sem Clodoaldo, que não bebia.
Agora, nesta semana, faltando uma ou duas horas para gravar um pouco dos meus guardados de admiração e amizade a Tarcício Burity, o telefone toca. Avelima, de São Paulo, me dá a notícia, e não teve água com sal que, daí em diante, limpasse meu discurso.
Não é fácil ler a Divina Comédia Abandone toda esperança de leitura fácil, você que adentra o território de Dante . Mas a leitura é algo...
Pequeno guia para se aproximar da Divina Comédia
No ano passado não me avisaram quando começou a Primavera, mas agora fui avisado de sua chegada pela mudança do vento e da chegada de pequ...
Lua cheia e a Primavera
A Folhinha do Sagrado Coração de Jesus pendurada na parede da biblioteca apontava o dia 22 de setembro como início dessa estação, então comecei a prestar a atenção em flores e o vento da tarde durante minhas caminhadas vespertinas.
A história a seguir me foi contada pelo meu muito querido e saudoso irmão, João Neto. Ele jurava que havia presenciado o “diálogo”, pois e...
Diálogo sertanejo
Nos idos dos anos 50 e 60 os principais transportes coletivos para o alto sertão eram o trem e umas poucas companhias interurbanas, que arriscavam seus ônibus em estradas pouco melhores do que carroçáveis.
Um dos muitos livros que li na juventude foi "O ovo apunhalado", de Caio Fernando Abreu. Nem de longe é o seu livro mais conhec...
Precisamos aprender a conviver com o espelho
Meu enorme amigo Paulo Renha foi quem alertou para o assunto. Num vídeo mandado por ele e que postei durante a semana conta-se a história ...