A memória é uma espécie de armadilha. Para o poeta Wally Salomão, “uma ilha de edição”. Ou quase isso. Bem mais algumas vezes. Alçapão esc...

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A memória é uma espécie de armadilha. Para o poeta Wally Salomão, “uma ilha de edição”. Ou quase isso. Bem mais algumas vezes. Alçapão escondido na mata esperando o pássaro. Quando menos se espera canto e voo se entregam em troca de migalhas. A partir de então, só o que foi aprisionado existe. Um canto triste para a alegria cruel dos seres esmaecidos. Aprisionado, o voo não se mantém na insuficiência das asas. Beleza que sangra num passear serelepe pelos poleiros. Movimentos que parecem graciosos, mas são tristes. Do mais puro desespero nasce o canto. Tristes penas cumpridas sem condenação.

Eu não sei se creio em vidas passadas, mas existe um sangue espanhol que corre em minhas veias e que incendeia minha alma... Eu sei! Nest...

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Eu não sei se creio em vidas passadas, mas existe um sangue espanhol que corre em minhas veias e que incendeia minha alma... Eu sei!

Neste sábado em que a chuva molhava lá fora; mais um dia da interminável pandemia e isolamento social, me pego relendo "Os Espanhóis", de Josep M. Buades.

O livro não é nenhuma obra-prima. É um interessante guia, com belas ilustrações, da história, cultura, mitos e esplendor do povo que, há séculos, ocupa a Península Ibérica.

Edgar Allan Poe – nascido em 19 de janeiro de 1809 – é o mestre do fantástico, do romantismo sombrio, raiz primeira do romance policial. S...

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Edgar Allan Poe – nascido em 19 de janeiro de 1809 – é o mestre do fantástico, do romantismo sombrio, raiz primeira do romance policial. Seu trabalho é impregnado de brumas, de morte e mentes transtornadas nas quais ficção e realidade se confundem em tramas engenhosas. Sua vida e morte não foram diferentes.

Dizem que todo crítico literário é um escritor frustrado. Poe, inspirado crítico, desmontou a tese. Tornou-se escritor de primeira grandeza. Não teve o mesmo sucesso quando tentou viver apenas de sua escrita.
Amargou as dores da pobreza e teve uma das mortes mais misteriosas da história da literatura.

Em 3 de outubro de 1849, o escritor foi encontrado sujo, vagando delirante pelas ruas de Baltimore, usando roupas que não eram suas e “em grande angústia”, de acordo com Joseph Walker, que o encontrou. Foi levado para o Washington Medical College, onde morreu no domingo, 7 de outubro. Não ficou consciente tempo suficiente para explicar como chegou àquela condição degradante.

As lendas em torno de sua morte afirmam que ele chamou repetidamente o nome “Reynolds” na noite anterior à sua morte, embora não se saiba a quem ele estava se referindo. Algumas fontes citam suas palavras finais: “Lord help my poor soul” (Senhor, ajude minha pobre alma).

A causa real de sua morte continua sendo um mistério. Todos os registros médicos de Poe foram perdidos, inclusive sua certidão de óbito. Final doloroso de uma vida na qual não faltaram perdas e dores lancinantes.

Os jornais da época atribuíram a morte de Poe a “congestão cerebral” ou “inflamação cerebral”, mas estes eram eufemismos comuns para mortes que tinham causas mal vistas na sociedade, como o alcoolismo. As especulações incluem delirium tremens, doenças cardíacas, epilepsia, sífilis, meningite, cólera e raiva.

Imediatamente após a morte de Poe, iniciou-se uma sequência que parece saída de um de seus livros: uma história macabra entre um vivo e um morto. Seu rival literário, Rufus Wilmot Griswold,
iniciou uma das mais terríveis campanhas difamatórias de que se tem notícia.

Começou por escrever um obituário destacado no New York Tribune. Assinava-o com o pseudônimo Ludwig. No texto, falsidades e calúnias apresentavam Poe como um lunático que “andava pelas ruas, louco e melancólico, com os lábios se movendo em maldições indistintas, ou com os olhos erguidos em orações fervorosas (nunca por si mesmo, pois sentiu ou parecia sentir, que já estava condenado)”.

O parágrafo inicial do obituário anunciava o tom que permeou todo o texto: “Edgar Allan Poe está morto. Ele morreu em Baltimore anteontem. Este anúncio surpreenderá a muitos, mas poucos sofrerão com isso.” Uma obra-prima da vingança póstuma. Griswold, sim, merecia a má fama que injustamente atribuíram a Antonio Salieri no filme “Amadeus”, de Miloš Forman.

O obituário cruel foi publicado no exato dia em que Poe foi sepultado. Logo foi reproduzido nos jornais de todo o país. “Ludwig” rapidamente foi identificado como Griswold, editor e crítico que guardava profundo rancor em relação a Poe desde 1842.

Griswold prosseguiu com sucesso a sua campanha difamatória contra o inimigo morto. Conseguiu convencer a sogra de Poe, Maria Clemm, a lhe vender os direitos das obras do genro falecido. Sua obsessão em destruir a reputação de Edgar Allan Poe incluiu publicar as obras do escritor Poe em 1850, anexando a elas a uma biografia de Poe na qual narrou histórias de suas supostas embriaguez, imoralidade e instabilidade. Descreveu o autor de “The Raven” como um louco depravado, bêbado e viciado em drogas.

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Gov. EUA
Nenhum limite deixou de ser ultrapassado, nenhuma mentira intimidou Griswold, nenhum ultraje o fez hesitar. O biógrafo transformou a opção de Poe de não retornar à Universidade da Virgínia em expulsão por comportamento “selvagem e imprudente”. A dispensa honrosa do Exército tornou-se deserção. A publicação de Tamerlane e outros poemas em 1827 foi descartada como mentira. Griswold chegou a acusar Poe de se envolver em segredos obscuros e chantagens. Para comprovar suas afirmações, divulgou cartas falsificadas.

Ao elogiar os escritos de Poe e atacar sua personalidade, Griswold conseguiu parecer um admirador sincero, benfeitor da família do escritor. Em suma, assassinou seu inimigo no que tinha de mais caro: a reputação. E o fez dando a impressão que o respeitava.

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Mais de uma vez, os amigos de Poe (John Neal, George Rex Graham, George W. Peck, James Wood Davidson, Henry B. Hirst, Charles Chauncey Burr e Sarah Helen Whitman) vieram em defesa do escritor falecido, mas Griswold havia feito um trabalho consistente. Para cada publicação que lhe condenava a infâmia, três repetiam suas difamatórias afirmações. Suas alegações somente um século depois foram completamente desmascaradas ou tratadas como meias-verdades distorcidas. Era tarde: o livro de Griswold tornara-se uma fonte biográfica popularmente aceita. Em parte porque era a única biografia de Allan Poe, mas também porque os leitores ficaram seduzidos pela ideia de ler “obras de um homem perverso”. Ah, a humanidade e suas loucuras.

Em 1852, Griswold preparou outro artigo biográfico sobre Poe, que foi novamente amplamente reproduzido.

Embora Griswold tenha morrido em 1857, seu livro permaneceu a única biografia de Poe até 1875. Após 25 anos, sua apresentação de Edgar Allan Poe havia se enraizado profundamente na consciência popular. Tudo o que suas acusações careciam em verdade foi compensado em repetição, uma vez que o escândalo e a morbidez seduz as almas mais dadas ao pensamento mágico.

Os amigos prosseguiram no combate às calúnias e muitos leitores sentiram a injustiça inerente ao relato de Griswold, mas foi em 1875 que surgiu um novo personagem, o inglês John Henry Ingram (1842-1916).

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Na inauguração de um monumento a Poe em Baltimore, a nova biografia, assinada por Ingram, recebeu muita atenção e iniciou a desconstrução da mentira de Griswold.

Em 1880, com a ajuda dos amigos de Poe, Ingram produziu uma nova biografia do escritor, em dois volumes. Esta havia sido cuidadosamente pesquisada e documentada. Juntamente com as biografias mais curtas de Eugene L. Didier (1877) e William Fearing Gill (1878), a reputação de Poe foi aos poucos restaurada.

Poe estava morto e difamado havia 31 anos.

Criada para perpetuar as letras da Paraíba, a Academia Paraibana de Letras completa 80 anos. No dia 14 de setembro de 1941, com retardo de...

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Criada para perpetuar as letras da Paraíba, a Academia Paraibana de Letras completa 80 anos. No dia 14 de setembro de 1941, com retardo de quase cinco décadas em relação à Academia Brasileira de Letras, um grupo reduzido de homens dedicados ao uso da palavra escrita achou oportuno criar uma instituição para eternizar as tradições literárias de nossa terra àquela época reverenciada em todo o País, sobretudo pela produção de José Lins do Rego, Augusto dos Anjos e José Américo de Almeida.

A boçalidade sempre foi um eficaz instrumento para tomada e manutenção do poder. Defendendo posições insustentáveis perante a razão e a c...

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A boçalidade sempre foi um eficaz instrumento para tomada e manutenção do poder. Defendendo posições insustentáveis perante a razão e a ciência, de uma forma geral, os boçais se valem da agressividade para tentar impor medo e assim fragilizar o poder de reação dos que se colocam em situação de divergência ao que praticam ou falam. Destilam ódio e ressentimento a todo instante. Estrategicamente tentam incutir na população a sensação de insegurança, levando-a a viver em permanente estado de alerta em razão das ameaças propagadas. Alteram a realidade dos fatos com o propósito de se apresentarem como “salvadores da pátria”.

Se alguém 'é' uma mulher, isso certamente não é tudo o que esse alguém é. Judith Butler Há quase uma década (2012), estiveram ...

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Se alguém 'é' uma mulher, isso certamente não é tudo o que esse alguém é.
Judith Butler

Há quase uma década (2012), estiveram aqui em João Pessoa a Ministra da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República, Eleonora Menicucci, e a sua vice, professora Lourdes Bandeira. Vieram lançar linha de crédito para mulheres, a fim de que pudessem enfrentar as desigualdades de gênero no trabalho. Duas feministas, poderosas, que sempre estiveram à frente das lutas das mulheres, fossem na saúde ou na Academia, em pesquisas sobre Violência contra à Mulher, e que hoje legitimadas e autorizadas representam o que Rose Marie Muraro, chamou de “Nova Ordem Simbólica” nos espaços políticos, não mais centrados no falo (o poder, o matar ou morrer que é a sua lei),

O quanto carrego de mim ...

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O quanto carrego de mim nesse retrato cinzento desbotado? Carrego o tempo que é vivo e um amor imenso permanente intenso alado ligado e infinito!
Metade de mim é interno onde estou me dou e me vejo lugar onde me procuro e me encontro. Metade de mim é integralmente ancestral kármico cósmico pleno absoluto e simplesmente!
O firmamento expôs uma janela com vistas pro infinito.

Desde que o homem é homem, tem a ambição de fabricar instrumentos que o auxiliem e eventualmente o substituam. A história humana pode ser ...

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Desde que o homem é homem, tem a ambição de fabricar instrumentos que o auxiliem e eventualmente o substituam. A história humana pode ser contada, e sobretudo compreendida, a partir dos artefatos com que ele vem transformando a natureza. A máquina é uma extensão de nossas faculdades e aptidões; quanto mais sofisticada, mais indicativa do refinamento a que terá chegado a inteligência humana.

Entre a enxada e o computador, vai um abismo que separa a nossa pré-história do estágio em que fazemos viagens fora da Terra, aspirando à conquista do espaço cósmico. O paradoxal é que, enquanto supercomputadores calculam as trajetórias

Gosto de chuva. Não sou sertanejo, mas gosto de chuva. Gosto gratuitamente, sem nenhum interesse, salvo o prazer físico - e metafísico, di...

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Gosto de chuva. Não sou sertanejo, mas gosto de chuva. Gosto gratuitamente, sem nenhum interesse, salvo o prazer físico - e metafísico, diria - de vê-la cair, também gratuitamente, sobre o mundo, sobre a paisagem, como que lavando e purificando tudo, até mesmo o que dela se encontra protegido, sob um teto. Fosse eu do campo, compreensível seria esse talvez esdrúxulo gosto pluvial, pois que lá, na campanha, tudo ou quase tudo depende da água que cai do céu, que a tudo dá vida, como se participasse, em alguma medida, da própria divindade fecundante. Mas, não. Sou urbano, profundamente urbano, nascido, criado e formado na urbe, mesmo que aldeã, todavia, urbe, em suas mais autênticas vocação e expressão citadinas.

Fácil capturar uma borboleta ou apanhar uma flor. Marisa vivia naquele mundo. Nunca se interessara por estudar: as irmãs, fazendo pós-grad...

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Fácil capturar uma borboleta ou apanhar uma flor. Marisa vivia naquele mundo. Nunca se interessara por estudar: as irmãs, fazendo pós-graduação, levavam grossos volumes, consultavam internet, passavam noites acordadas para subirem na vida.

Elogiadas pela família, o pai vendera uma fazenda, a fim de vê-las no cume. Marisa era o patinho feio, considerada uma medíocre, dada a receitas culinárias anotadas num caderno, preparando o bolo do fim de semana. No dia em que as estudiosas alcançaram o diploma, foi festa até o clarear do dia. Muita gente compareceu para cumprimentos, elogios, exaltações.

Passei a conhecer melhor Frutuoso Chaves em inícios da década de 1970, quando me entrevistou para o jornal “ A União”. Na oportunidade, ...

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Passei a conhecer melhor Frutuoso Chaves em inícios da década de 1970, quando me entrevistou para o jornal “ A União”. Na oportunidade, recém-chegado de Curitiba, onde eu fora receber um dos prêmios do Concurso Nacional de Contos do Paraná, em plena ditadura Médici, ele me provocou: “O que você acha da proibição da exposição das obras eróticas de Picasso no território brasileiro? ” Remeto o leitor para o texto “Sérgio e Picasso”*, publicado no presente livro, que revela o repórter desassombrado que ele sempre foi.

“Você gosta de ler?” “Não!”. A resposta para essa indagação vem marcada por uma contundente negativa. Engana-se por desconhecer o quanto s...

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“Você gosta de ler?” “Não!”. A resposta para essa indagação vem marcada por uma contundente negativa. Engana-se por desconhecer o quanto sua cognição se prepara assiduamente para o exercício da leitura. Sim, você lê muito, seja o texto verbal ou não verbal. Estamos em um momento bastante imagético, em que muitas fotos, vídeos, memes circulam nas redes. Entretemo-nos. Horas a fio nos abastecemos de uma imensa gama de informações. Muito tempo quotidianamente dedicado ao acesso à vida alheia. O que sobra de nós? Quem se (re)conhece nessa multidão fantasiosa,

Muita gente não presta atenção ao inglês William de Ockham – Guilherme para nós —, esse frade franciscano que viveu na Idade Média, entre ...

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Muita gente não presta atenção ao inglês William de Ockham – Guilherme para nós —, esse frade franciscano que viveu na Idade Média, entre os séculos XIII e XIV. Sendo considerado por muitos um “pensador menor”, o estudioso e teólogo escolástico foi o mais proeminente representante da escola nominalista, para a qual a questão dos “universais”, um dos maiores problemas da filosofia, era apenas pura retórica, tola invencionice, isto é, falácia.

Seu pensamento empirista e paroxisticamente moderno para a sua época assume a defesa sem concessões do livre arbítrio, condenando a interferência do Estado ou da Igreja nas ações humanas. Discípulo de Duns Scott

Fui Pilatos na Paixão de Cristo e camponês paupérrimo, que se dana e se zanga, na caatinga paraibana do filme A Canga. Fui, também, no ...

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Fui Pilatos na Paixão de Cristo e camponês paupérrimo, que se dana e se zanga, na caatinga paraibana do filme A Canga. Fui, também, no cinema, fazendeiro escravagista do Ceará dos inícios da República, tenente de polícia nada abúlica, que perseguia um cangaceiro, fui pistoleiro, delegado nada nobre, fui aposentado... doente e pobre, um pequeno tirano - empresário pernambucano,

Longe seguem velhos e surrados tênis Passos que se escorrem dentro da noite Há uns que vão são quase comparsas destas ...

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Longe seguem velhos e surrados tênis Passos que se escorrem dentro da noite Há uns que vão são quase comparsas destas escuridões Rua larga Vagos homens vagam Faróis se cruzam no verde que diz:

Num livro de canto, no térreo da estante, encontro recortada, com algumas correções, crônica que assino em 31 de janeiro de 1979 sob o “Ch...

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Num livro de canto, no térreo da estante, encontro recortada, com algumas correções, crônica que assino em 31 de janeiro de 1979 sob o “Choque do futuro” de Alvin Toffler. Não a reproduzi em nenhum dos livros. E me surpreendo, agora, decorridos mais de quarenta anos, reagindo da mesma forma, sob o mesmo espanto, como se o choque saísse do instantâneo para o permanente. Toffler, ao tempo de sua reflexão, sente-se “esmagado pela rapidez com que se verificam as mudanças e alterações sociais na chamada sociedade tecnológica”.

A noite caiu há pouco, e o mar ali sussurra seus milenares mistérios... Já começam as saudades do inverno, enriquecidas com as lembranças ...

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A noite caiu há pouco, e o mar ali sussurra seus milenares mistérios... Já começam as saudades do inverno, enriquecidas com as lembranças da performance da orquestra de sapos, no brejo atrás da rua. Mas, contento-me com os exaltados marulhos desta preamar de lua nova. Tudo quieto, menos o vento que jorra em brisa impetuosa, com leve aroma de um verão já instalado. A paz faz eco na memória, acaricia as mais doces lembranças do existir. Ao fundo, somente os grilinhos do sereno mordiscam a penumbra deste saboroso silêncio.

Qualquer leitor, mesmo o mais afeito à poética de Sérgio de Castro Pinto, consideraria o risco ou o desafio de falar sobre essa Folha C...

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Qualquer leitor, mesmo o mais afeito à poética de Sérgio de Castro Pinto, consideraria o risco ou o desafio de falar sobre essa Folha Corrida que reúne os poemas escolhidos do autor.

Além da simbologia do cinquentenário e da solenidade que se impõe, existe uma fortuna crítica plural e sólida, cuja convergência de pontos de vista é salvo-conduto do poeta, válido em todo o território nacional. Há muito, Sérgio é reconhecido como poeta paraibano e brasileiro pelas melhores e mais respeitadas vozes

Ela é a matriarca de uma grande família. Uma mulher alta, esguia, elegante nos mínimos gestos. Pe...

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Ela é a matriarca de uma grande família. Uma mulher alta, esguia, elegante nos mínimos gestos. Percebe-se que disfarça sua autoridade com uma certa gentileza, mas o limite é passado pela caraterística do olhar. A chegada aos noventa anos, não a abateu como se temia...afinal, enfrentou todos os revezes da vida, mudanças, viuvez, problemas de saúde, com invejável controle das emoções. O tempo passou, mas como sempre, não impunemente. A rapidez de raciocínio aos poucos, deu lugar a pequenos lapsos de memória, que o seu inconsciente se apressava em justificar. Ainda havia a crítica da parte consciente em relação à que se perdia...assim o Alzheimer entrou na vida de Dona Anita”.

No deserto que estamos, vejo tantos com dificuldades inúmeras para continuar. São tantas sedes, nos impondo sofrimento e dor. A ...

No deserto que estamos, vejo tantos com dificuldades inúmeras para continuar. São tantas sedes, nos impondo sofrimento e dor. A paralisia do isolamento obrigatório, tem transformado o “tempo”, tantas vezes desejado, em verdadeiro prisioneiro da incapacidade. A intolerância, já faz morada em nós. A inércia, se transformou na melhor amiga. A mente e o corpo, sentem sede do ir e vir livremente.

O velho Riobaldo estava em sua fazenda dando uma entrevista a alguém não identificado e a quem ele chamava de doutor. Poderia ser um soció...

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O velho Riobaldo estava em sua fazenda dando uma entrevista a alguém não identificado e a quem ele chamava de doutor. Poderia ser um sociólogo, um professor ou mesmo um jornalista.

Estava feliz e casado com Otacília, a quem ele se refere como sendo o seu amor de prata. Muitos e muitos anos antes, o adolescente Riobaldo foi convidado a alfabetizar o Seu Bebelo. Fazendeiro e Jagunço Seu Bebelo estava interessado em entrar para política.

Ao contrário dos brasileiros que dizem ter tantos anos, os ingleses dizem que são tantos anos velhos. Tem razão; nós não temos o temp...

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Ao contrário dos brasileiros que dizem ter tantos anos, os ingleses dizem que são tantos anos velhos. Tem razão; nós não temos o tempo que vivemos, ele já se foi.

Décio Moura, amigão, mentia deslavadamente quando perguntavam a sua idade, mas sempre exagerava para mais. Aos sessenta dizia ter setenta só para ouvir as pessoas elogiarem sua juventude. Aprendi com ele e digo que vou fazer oitenta anos. Depois dos elogios, emendo logo: “- Pois é; vou fazer sessenta e sete, sessenta e oito...até chegar aos oitenta, pode apostar”.

Pego o pincel à procura de uma tela. Para um pintor com dotes para lá distantes dos de um Monet, um Van Gogh ou um Dalí, repasso na mente ...

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Pego o pincel à procura de uma tela. Para um pintor com dotes para lá distantes dos de um Monet, um Van Gogh ou um Dalí, repasso na mente imagens e reconstruo cenários da eterna cidade Parahyba. De repente, visito a Lagoa como uma página de um caderno de colorir. Parece-me alguma cena entre janeiro/dezembro, meio ano findo e tempo novo, sem chuvas, um espaço para serem derramadas diversas cores, cheiros e sabores.

Pouco tenho frequentado as redes sociais. O ambiente miasmático que a impregna me mantém delas afastado. Ao ver o fervor e a devoção reli...

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Pouco tenho frequentado as redes sociais. O ambiente miasmático que a impregna me mantém delas afastado. Ao ver o fervor e a devoção religiosa na defesa de bandidos, de ambos os lados do espectro político, por parte de seus sequazes, fico enojado. A atmosfera está decididamente insalubre. Ainda assim, aproveitando a publicação de algum ensaio ou artigo, vez por outra arrisco um olho, para ver se há alguma mudança. Qual! Nada mudou a não ser para continuar o mesmo. Bis idem, como se diz em latim.