Os pavilhões se armando ao longo da General Osório, as barracas a impedirem o trânsito nas três ruas paralelas que saem da Catedral e de São Francisco, e os primeiros ensaios, os pileques preliminares ou simples arrastos de cadeira da boemia ansiosa.
Entre as muitas e muitas lembranças que me ficaram de Martinho Moreira Franco, uma delas me acudiu no fim da tarde desse último domingo...
A cidade de Martinho
Os pavilhões se armando ao longo da General Osório, as barracas a impedirem o trânsito nas três ruas paralelas que saem da Catedral e de São Francisco, e os primeiros ensaios, os pileques preliminares ou simples arrastos de cadeira da boemia ansiosa.
Existem amizades edificadas com tijolos e argamassa que as artes possibilitam construir, no sincero aperto de mãos e na troca de experiênc...
Vida Aberta, um poema global
Com Waldemar José Solha se deu assim: construímos nossa amizade a partir de meado da década de 1970. Ele, volumoso em leituras, ensinava a arte de escrever e de pintar, eu, um jovem sorumbático vindo de Serraria com passagem por Arara, escutava mais do que conversava, ou dava pitaco sobre os assuntos abordados. Ouvia e peneirava tudo o que ele falava e assim aprendi muitas coisas que me têm sido úteis.
Nos últimos dias eu tenho me sentido olímpico, quase um deus atleta grego desgarrado, sem a imortalidade, exceto a efêmera eternidade do i...
Olímpico
Eu sou mais um entre os 12 deuses gregos e milhares de atletas de toda a humanidade. E o motivo: eu sei sonhar. No filme mudo da mente, repriso as competições mais acirradas das corridas, saltos e jogos desde a infância. Sim, eu ajudo a construir vitórias, pois percebo que ainda sou um corredor, saltador, ginasta e jogador.
O garoto ali postado na memória é um arremessador de sonhos, sacador de desejos, marcador de sorrisos, saltador de possibilidades. Olímpico aventureiro diário, que se materializa nas disputas em ciclos de quadriênios. Ele é capaz de sorrir e chorar com as vitórias e derrotas e muito mais ainda com as histórias de cada guerreiro armado com o corpo, bolas, raquetes, arcos, lutas, pesos e sapatilhas.
Os campos olímpicos se materializam em campinhos de terra batida, quadras de piso de cimento crespo, muros feitos de blocos de tijolos que serviam de traves para se equilibrar, obstáculos em formato de muretas, pedras arremessadas como discos, dardos ou martelos.
Sopra, assim como antes, o vento no rosto e nos cabelos, que acaricia a fronte do deus mortal do garoto da esquina, dos deuses eternos do Olimpo e dos inesquecíveis atletas dos jogos apresentado hoje em telas de TVs de modelos que se ajustam a cada quatro anos ou às fotografias e filmes raros de competições esquisitas ou conhecidas.
A camisa suada, os pés descalços e a linha de chegada não tão bem definida. O pódio, esse mero detalhe ansiosamente sonhado por muitos, é só uma questão de percepção. O que conta no íntimo é ser "o mais rápido, o mais alto, o mais forte" de si mesmo. Parafraseando Mahatma Gandhi, a medalha da alegria "está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitória propriamente dita". O que é a vitória senão o fato de se estar bem consigo próprio.
Não participava de festas. Maria se ofuscava mesmo, encolhendo-se qual caramujo, enrolada em suas hesitações. Todos saíam de casa, ela fi...
Solidão
A mulher do general Eurico Gaspar Dutra, sob certo aspecto, não fazia jus ao nome. Ou seja, não tinha a mansidão da mãe de Cristo, ou de o...
Dona Santinha e o jogo do bicho
E o que se diz? Pois bem, que foi Dona Santinha, católica fervorosa, quem exigiu do marido o fechamento dos cassinos e o fim do Jogo do Bicho. Também, que o general instalado em 1946 na Presidência da República
“Nos dedicamos a escrever declarações de amor públicas para amigos no seu aniversário que nem lembraríamos não fosse o aviso da rede soci...
Uma nova estética da vigilância
O poema “Barcarola”, inserido por Augusto dos Anjos no Eu, remonta a uma tradição cultivada pela poética medieval. Segundo Segismundo Spin...
Uma barcarola de Augusto dos Anjos
Muito já se escreveu sobre os intelectuais, sua atuação e sua função social. Podemos citar três obras praticamente clássicas sobre o tema,...
Intelectuais, mestres, doutrinadores
Se lhe mostro uma sequência de fotogramas, depois digito e lhe exibo e/s/t/a// s/é/r/i/e// d/e// c/o/n/s/o/a/n/t/e/s//e//v/o/g/a/i/s, alé...
A magia dos Quadrinhos
Os gibis e o cinema funcionam com idêntica magia (ainda maior) da escrita — que se processa em sua mente, não fora dela — como se vê neste trecho:
Agosto, do desgosto… quem teria inventado tão insana baboseira? Como não ser de bom gosto, mês que vem com tantos ventos, com...
Agosto do bom gosto
Elencada como o terceiro dentre os sete pecados capitais, a Inveja, apesar de abominada sobretudo por sua vileza, faz parte dos processos ...
A inveja, uma confusão psicótica
O mito de Psiquê e Eros, por exemplo, mostra as irmãs de Psiquê, cuja beleza sobrepujava a da própria Vênus, agindo contra ela, imbuídas de inveja. Fingindo cuidado e preocupação, insuflam-na a quebrar o juramento de nunca tentar ver a face do seu amado, Eros, uma vez que era vedado a um humano ver o semblante de um deus, e esse ato provoca a sua desgraça.
Filhos, ora os filhos. Levei muito a sério aquela premissa do “crescei-vos e multiplicai-vos”. Sete! Pelo menos pela contabilidade oficial...
A orquídea de Ariadne
Em 1968, os quatro integrantes dos Beatles já viviam aquele clima azedo de quando o casamento já não engrena mais. Ainda assim, resolveram...
Beatles: a aventura de comandar uma gravadora
Alguns sabem do apreço que tenho pela poesia de Augusto dos Anjos, que considero, sem nenhum favor, o maior poeta brasileiro e um dos maio...
Augusto e Zola: dos encontros nada prováveis
Por esses dias foi dia do amigo. Muitas mensagens. Flores. Trocas de carinhos explícitos. Em tempos digitais e fazendo parte de alguns po...
Amigos: tantos e tão poucos!
Amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito, já dizia a canção/poema. E a neurolinguística se esforça para explicar a empatia que
Meu corpo querido, meu amado, como te sou grata. És música, uma explosão de desejos e mistérios, meu templo e meu instrumento. Sentada s...
Até o dia da partida, prometo cuidar de ti
Sentada sob essa árvore tão antiga, penso em ti. O perfume das folhas entra pelas narinas, chega aos pulmões. Sigo sua trajetória. Notas musicais pousam nas minhas células, mantendo o fôlego da vida. Bach.
Ouço o meu coração. Regulares batidas a traduzir o ritmo da minha existência. Elas se juntam a um ruído leve, de água a cair sobre pedras. Ruídos de verão, asas de libélulas, o calor impregnado no som, meu sangue a navegar. Pizzicato líquido. Mahler.
Quando comecei na literatura, existia uma história de que livro que não fica em pé sozinho na estante não tem valor. Claro, isso tinha...
Livro bom não é para ficar preso em estantes
Claro, isso tinha a ver com a espessura do livro, não com a qualidade do seu conteúdo. Eu morria de medo de publicar um livro que não chamasse a atenção favorável de ninguém.
Mas meu primeiro livro de poemas foi magro que só eu na época – Os zumbis também escutam blues.
A Rússia foi punida pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) por uso sistemático de doping no esporte. Não pode competir como país, não po...
Um concerto russo e outra história
Parte I Procedentes de Paris chegamos à Cidade Eterna onde hospedamo-nos no apartamento de Salomé Espínola. Sassá, como carinhosamente...
Breve passeio pela Toscana
Ela mora num apartamento da Via Sebino. Região prazerosa no nordeste de Roma, dispõe de construções antigas e imponentes, e lugares aprazíveis, como a Villa Copedé, um conjunto de palácios residências do século XIX, com a esquisita Fonte das Rãs.
Em Roma, Sassá nos levou para lugares pouco conhecidos pelos turistas, como uma cervejaria fundada em 1846, a Antica Birreria Peroni, onde bebemos deliciosas cervejas e devoramos um prato muito saboroso: tripa alla Romana! É uma espécie de dobradinha muito gostosa, com vísceras de boi. É um pouco apimentada, porém muito saborosa.
Interessante é que Ridley Scott sempre foi um diretor do tipo “ame ou deixe-o”. É possível gostar, de um modo avassalador, de alguns de se...
Blade Runner: intrigante distopia sobre o destino
O ambiente conflituoso em que estamos mergulhados, impede a reflexão sobre as nossas ações e sentimentos. O mundo moderno cheio de inj...
Não existe esperança onde se planta a discórdia
Em seu último jornal literário, Terceiro Céu, Ascendino Leite explora um incidente de forma pouco literária e mesmo destoante das sut...
Surpresas de Ascendino
O Zé Lins e o Zé Américo Trocaram correspondências Vasta documentação São cartas, experiências Dois amigos literatos Que merecem reverênci...
O grande encontro dos Zés
Raniery Abrantes
Li que Thomas Edison teria dito: “O maior elogio que ouvi em toda a minha vida de inventor foi: ‘nunca vai funcionar’.” Encare, também, ...
Timoneiro
Encare, também, como elogio quando ouvir: ‘não és capaz’; ‘não é para você’; ‘nunca alcançarás’; ‘não passa de sonho’; ‘não dará certo’; ‘coisa de novela’; enfim, quando acharem, ou você mesmo achar, que algo está além da tua capacidade.