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​​ Abrindo a janela do Paraíso, Deus avistou o homem e a mulher juntos, mas percebeu que faltava algo entre os dois. ​​E Deus, então, cri...

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Abrindo a janela do Paraíso, Deus avistou o homem e a mulher juntos, mas percebeu que faltava algo entre os dois.

​​E Deus, então, criou o amor, dizendo mais ou menos assim:

Que o amor não feche portas.

E mesmo quando as encontre fechadas, por um motivo qualquer, não se importe nem um pouco em varar as madrugadas nos jardins, atirando pedrinhas na vidraça, na esperança de que se abram pelo menos as janelas.

Que o amor não prometa, nem muito menos permita que se use do seu santo nome em vão.

Que se cumpra o amor.

Se prometer, não tarde em cumprir.

​Que o amor não caminhe aos saltos, como quem sobe escada. Que o amor simplesmente flutue sobre o bem-amado.

​Em flutuando, não machuque.

Em adejando, em nada se segure, senão em asas de acarinhar.

​E, por isso, que só ao amor seja dado conhecer o caminho das nuvens e o destino dos céus.

Por mais que sonhe, o amor nunca faça de conta.

​Tão somente faça.

Só assim, não carecerá fazer conta, senão de si mesmo, já que é infinito, porquanto há de durar apenas pelas contas dos poetas.

Que não exista amor inconsolável. Nem mesmo quando perca de vista um grande amor.

Portanto, que o amor console o amor.

E, sendo assim, que seja essa a única razão pela qual nunca se deverá chorar por toda a vida um grande amor.
Aliás, o amor, em si, jamais deverá doer.

​É certo que, não raro, o coração padecerá. Mas não será por mal de amor, como pode parecer ao juízo dos incautos e, principalmente, dos mal-amados.

O amor para sempre será bem que se entrega de corpo inteiro e, por mais que se use nunca deve se acabar.

Em troca, só exigirá não ter dono.

A nenhum pretexto surtirá efeito o amor.

Será sempre causa.

A bem da verdade, de tudo há de causar um pouco:

Na presença, causará frio, mas também calor – conforme a roupa. Na ausência, tão somente cause saudade.

E como não estabelecerá precedência, o amor abrirá portas, cederá o passo e, mesmo chegando primeiro, será sempre o último a se despedir da vida.

Faça-se o amor.


Luiz Augusto Crispim