Os Yazidis, uma das minorias religiosas mais enigmáticas do Oriente Médio, pertencem etnicamente ao mesmo grupo do povo curdo. Ao longo dos séculos, conseguiram preservar sua religião distinta, o Yazidismo (também chamado de Sharfadin), o que, em determinados períodos, os tornou alvo de intensa perseguição na região.
Região historicamente habitada pelos curdos, no Médio Oriente: uma nação sem território, que abrange partes da Turquia, Iraque, Síria, Irão, Arménia e Geórgia.
Curiosamente, o Yazidismo não permite a conversão de pessoas de fora, e o acesso ao conteúdo de seu texto sagrado, o Meshef Resh, é restrito, reforçando o caráter exclusivo e misterioso de sua fé.
O Yazidismo é uma religião sincretista que remonta ao século XI, incorporando elementos de diferentes tradições religiosas, como o Cristianismo, o Islamismo e o Zoroastrismo, antiga religião persa fundada no século VI a.C. Do Cristianismo, os Yazidis adotaram o ritual do batismo; do Islamismo, a prática da circuncisão; e do Zoroastrismo, herdaram a representação de Deus através do fogo, simbolizando a pureza e a luz divina. Essa rica mistura de crenças contribui para o caráter único e complexo da religião Yazidi.
Ilustrações do povo e da cultura Yazidi entre o fim do século XIX e o início do século XX. ▪ Fonte: Wikimedia
A sua fé sustenta que todo o Yazidi deverá fazer pelo menos uma peregrinação a Lalish, uma bucólica vila nas montanhas do Curdistão iraquiano. Lugar onde, acreditam, a Arca de Noé terá ido parar depois de uma serpente ter usado o seu corpo para tapar um buraco no barco, salvando assim toda a criação de se afogar. Razão pela qual, a cobra surge representada na porta sagrada dos seus templos e ser considerada uma criatura de grande prestígio entre os Yazidis.
Entrada principal do templo Yazidi, em Lalish, norte do Iraque ▪ Foto: J. Crane
O principal motivo pelo qual os Yazidis foram por muito tempo perseguidos advirá do facto de venerarem um anjo caído chamado Melek Tawwus (“Anjo Pavão”), que para o Islão sunita é uma representação do diabo, isto porque os Yazidis acreditam que Deus é representado por sete anjos, sendo que um deles é o referido Melek Tawwus – que terá sido expulso por Deus por recusar curvar-se perante Adão no Paraíso, considerando que não teria de se curvar perante um homem nascido do pó. Esta veneração de Melek Tawwus por parte dos Yazidis conferiu-lhes a reputação
Melek Tawwus, o Anjo Pavão, símbolo da religião Yazidi. ▪ Fonte: Wikimedia
de serem adoradores do diabo, uma vez que a palavra “shaytan”, usada para se referir a Melek Tawwus, é a mesma que é usada no Alcorão para descrever Satanás.
Entre os séculos XVII e XVIII, terão havido pelo menos 72 significativos massacres de Yazidis. Nos últimos anos, os Yazidis foram um dos povos mais perseguidos pelo autodenominado Estado Islâmico, sobretudo entre 2014 e 2016. No final de 2024, o «Prémio Sakharov», galardão de direitos humanos atribuído pelo Parlamento Europeu, foi entregue a Nadia Murad e a Lamiya Aji Bashar, duas mulheres Yazidis que fugiram do Iraque depois de passarem anos como escravas sexuais daquele grupo. Já em outubro de 2018 Nadia Murad repartiria o «Nobel da Paz» com o médico congolês Denis Mukwege.
Actualmente, existirão cerca de 700 mil Yazidis em todo o mundo, sendo que a grande maioria habita nas montanhas tidas como sagradas de Sinjar, ou Shengal, localizadas na província de Nineveh, na região perto de Mosul, uma cordilheira de sensivelmente 100 Km de extensão, que se elevam a uma altitude de 1.463 metros acima das planícies aluviais em redor da Região do Curdistão.
Refugiados Yazidis, expulsos de suas terras e habitações pelo Estado Islâmico, em acampamentos preparados por entidades internacionais de ajuda humanitária, na região do monte Sinjar, norte do Iraque ▪ Fonte: Unicef + UKAid
Para além da Região do Curdistão Iraquiano, existem ainda comunidades Yazidis espalhadas noutros países, mormente na Síria, na Geórgia e na Arménia, existindo ainda vários milhares de refugiados a viver na Europa.