Na famosa novela de Tolstói, o personagem Ivan Ilitch, já moribundo, encontra consolo em um simples gesto de compaixão de um servo o c...

O que permanece?

preparacao morte consciencia conduta
Na famosa novela de Tolstói, o personagem Ivan Ilitch, já moribundo, encontra consolo em um simples gesto de compaixão de um servo o conforta em sua agonia final. Ivan descobre, no fim, que a verdadeira riqueza de uma vida não está no que foi acumulado, mas no que foi doado.

No tribunal da consciência, não serão as posses ou os títulos que pesarão, mas as ações silenciosas de amor que nos livrarão nas próprias trevas que criamos para nós, através da nossa postura de vida.

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C. Emile Auguste Carolus-Duran
Cedo ou tarde, fatalmente cada ser humano se verá despido das máscaras sociais e reduzido à sua realidade moral. O apego a status e conquistas materiais acaba por se tornar um fardo para aqueles que não cultivaram o amor e o perdão. As métricas convencionais de sucesso perdem seu valor diante das efemeridades do corpo e da alma. A morte, como grande equalizadora, desnuda todas as ilusões e nos reduz à nossa essência. Aqueles que viveram apenas para si descobrem, no fim, que carregam um fardo pesado: o vazio de uma vida que não cultivou o afeto, o perdão e a compaixão.

O que realmente vale na vida é a sabedoria aplicada e transmutada em bem, o desapego e o que realizamos em prol dos outros, sem autopromoção ou ostentação; o resto não conta muito. A morte física liquida as ilusões e invalida tudo o que é passageiro.

A condição religiosa, política, os rótulos, as faixas, os troféus, as honrarias, a influência, as conquistas "românticas" — nada disso significa algo diante do verdadeiro valor
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GD'Art
pessoal e da real condição moral de cada um que, muitas vezes, apenas o próprio indivíduo e Deus conhecem bem.

Quais foram as consequências de nossos atos? O que realizamos de relevante para ajudar? A quem perdoamos? O que foi feito no anonimato? O que oferecemos sem esperar nada em troca?

Só a capacidade e disposição de fazer o bem, adiantam. Só a bondade contará como saldo. Ela é, talvez, a única qualidade verdadeiramente invejável, pois abre e desobstrui os caminhos, projetando a alma em direção à luz. Ela é a essência do que significa viver uma vida plena e significativa. Sêneca alertava: "Enquanto adiamos, a vida passa." A procrastinação é um dos maiores inimigos da realização pessoal e espiritual. Muitos passam a vida toda buscando desculpas para não fazer o que sabem que deveriam fazer: amar mais, perdoar mais, servir mais. O tempo é implacável, e a oportunidade de cumprir nosso papel no mundo pode se esvair rapidamente. A urgência de agir, de viver com integridade, é uma responsabilidade que não pode ser transferida para o futuro, como também nos assevera Sêneca:

“Quão tolo é o ser humano em delimitar e fazer planos para uma longa vida, quando nem sequer é proprietário do dia seguinte”.
Permanecerá em nós e no mundo o bem que fizemos, o amor que compartilhamos, a sabedoria que foi transformada em ação. Ficará a luz que conseguirmos acender, mesmo após a nossa partida.

Tolstói nos lembra, através de Ivan Ilitch, que nunca é tarde para se começar a viver melhor. Frente à morte, o "juiz de instrução" da ficção encontra a sua redenção ao reconhecer o que realmente tem valor: amor, altruísmo, autenticidade... E após refletir sobre as suas escolhas, enfim, redime-se consigo mesmo, aproveitando o tempo que ainda dispunha. O melhor é aproveitar bem o dia de hoje para o bem, pois, na ampulheta do destino, nunca sabemos quando escorrerá o nosso último grão de areia no tempo que dispomos nesse mundo.

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