Swinging London , termo dado à cidade de Londres na década de 60, para designar a efervescência cultural da capital da Inglaterra. Ci...

Lágrimas por Marianne Faithfull

marianne faithfull londres
Swinging London, termo dado à cidade de Londres na década de 60, para designar a efervescência cultural da capital da Inglaterra. Cinema, teatro, música, bandas, cantoras, artes plásticas, e o barulho que essa cidade fazia e faz até hoje. Inspirada no texto do jornalista e amigo Silvio Osias, “Não há Swinging London sem Marianne Faithfull”, do último dia 30/01, por ocasião da morte da linda personagem dessa cena londrina, fui motivada a passear nas memórias não dos 60, mas dos 70 na cidade do Big Ben, e na perda dessa cantora e ícone do rock e Stones.

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Marianne Faithfull A. Vente
Na época do sucesso de “As Tears Goes By”, eu não conhecia Marianne Faithfull. Só depois, e como musa de Mick Jagger. Mas ainda assim, pouco. Só anos depois prestei atenção naquela mocinha de rosto angelical, mas que, com a sua voz rouca e afinada, mexia na cabeça daqueles que aconteciam em Carnaby Street.

Muitos anos depois então, assisti ao filme Irina Palm, 2007, direção Sam Garbarski, cuja protagonista é uma senhora (50 anos), viúva, recatada e contida, mas que ultrapassa a linha do bom comportamento indo trabalhar num Clube privê Sexy World, para juntar dinheiro para tratamento médico do neto. O emprego dizia para “recepcionista”, mas logo Maggie percebeu que a recepção seria outra... Ela é hostilizada pelas moças trabalhadoras do sexo por ser uma Senhora. Como o trabalho consistia em masturbar os homens com as
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Cena de Irina Palm Prime Video
mãos, através de buracos em cortinas pretas, a sua identidade era preservada. Logo os homens só queriam aquela cabine, por conta das mãos aveludadas, gentis e ritmadas de Irina (o nome de guerra do seu personagem). As colegas se enfurecem e fazem intriga para Irina ser demitida. Enfim, sem spoiler, é uma comédia dramática interessante, mas eu, nunca imaginei que, aquela senhora das mãos delicadas, era a roqueira dark e angelical, musa dos Stones, Marianne Faithfull, já também uma senhora.

Com a sua morte, fui ler sobre ela e a sua vida, de glamour e dias difíceis, vícios, drogas, fotos belas, dias de viver na rua, anorexia, Covid severa, casa de repouso, ostracismo etc e tal. Sempre fui fascinada por mulheres que furam a bolha do mundo das artes, e no caso, do Rock. Li também sobre Anita Pallenberg que, amiga de Marianne e a Sra. Keith Richards depois, cuja trajetória foi também de enfrentamento a tragédias, drogas e rock n´roll. Mulheres que marcaram os Stones, mas não só. Escreveram as suas próprias histórias na Swinging London dos anos 60.

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Anita Pallenberg e Keith Richards (1969) Fox News
Fiquei a lembrar da minha primeira viagem a Londres, 1975, e do meu encanto por Carnaby Street, berço dessa efervescência, e o quanto eu me extasiava pelos mercados de Portobello, das túnicas indianas com espelhinho (comprei algumas), e das noites no Markee, onde eu, provinciana, no auge dos meus 20 anos, casada e recatada (pero non Much), ficava em estado de espanto com aquelas músicas, aqueles jovens, e aquela cidade.

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Ana Adelaide Peixoto (Londres, 1975) Acervo pessoal
Foram muitas viagens à terra do Globo Theatre, da Tate Modern, do Borough Market, de Mary Quant, dos inúmeros parques belos e com os seus chorões melancólicos, e dos tantos atores que admiro. E a cada vez que boto os pés numa estação de trem londrina, sinto o cheiro de um tempo que não vivi, mas que sonhava, e chego a ver a figura de mulheres como Faithfull que, acaba de virar uma estrela. Uma estrela que fica a brilhar nos corações de Mick Jagger e de uma legião de fãs. Na verdade, de um tempo.

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Marianne Faithfull A. Vente
O seu canto sombrio, certamente ecoa numa Swinging London que espero não a esqueça. Mulheres como Jane Birkin, Brigitte Bardot (francesa), Twiggy, Vivianne Westwood, que mudaram comportamentos, auras, destinos, revessos, de uma estrutura que, se desarticulava dos espartilhos, do confinamento do lar, e de tantos séculos de reclusão.

E as lágrimas? Seguem por aí!


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