O velho Eudes chega às setenta primaveras com a disposição de sempre. O espírito é leve e muita é a disposição para correr o mundo atrá...

Eudes Rocha Júnior: 70 anos de amor à arte

eudes rocha junior amor a arte
O velho Eudes chega às setenta primaveras com a disposição de sempre. O espírito é leve e muita é a disposição para correr o mundo atrás do belo em suas múltiplas formas. Ainda há pouco fez sua tradicional peregrinação à Europa, região de sua particular devoção, desde a juventude. O que faz todo sentido, pois ali ele encontra tudo que ama: a história, a cultura ocidental, a arte, os museus, as galerias e os antiquários,
Eudes Rocha Jr
fornecedores das preciosidades de sua vasta coleção ainda em progresso.

A propósito, o colecionismo está em suas veias desde criança. Começou, se não me engano, com as moedas, e daí partiu para cultivar outros gostos, à medida em que ampliava suas descobertas de jovem interessado pela dimensão estética da vida, dimensão esta que o diferenciou do rebanho, para se tornar um destino. Um destino profunda e amorosamente ligado às artes plásticas, como sabemos. A formação jurídica, no seu caso, foi apenas um detalhe, já que sua realização pessoal seria – e é – no campo da crítica, da pedagogia e da divulgação artísticas.

No mundo das artes, quem não o conhece entre nós? Aos poucos, sem sofreguidão, foi se tornando uma referência, um nome incontornável em sua área. Seus textos e suas curadorias falam por si. São a prova concreta do seu saber e do seu compromisso. Não é apenas um estudioso, mas também um consumidor de arte. A sua casa é um templo de raridades e de bom gosto, sempre acrescido de novas peças, pois qual colecionador dá por findo o seu ofício ao mesmo tempo prazeroso e sofrido? Falar em sua casa é falar num refúgio contra as intempéries externas. Lá, ele construiu seu retiro, seu lugar de estar no mundo, cercado de história e beleza, materializadas em objetos,
D. Tércia Rocha
pinturas e livros, todo um acervo cuidadosa e amorosamente juntado, digno de um museu.

Somos amigos há décadas, com a ventura de termos vários amigos comuns, dentre os quais dois se destacam pela antiguidade do vínculo amical: Cleanto e Hermance Gomes, irmãos que fazem parte de minha história e seus primos queridos. E como não lembrar seus pais, Seu Eudes, proprietário da célebre Casa da Caneta, na Duque de Caxias dos tempos áureos, austero comerciante da velha guarda, exemplo de tenacidade e decência, e Dona Tércia, exemplo da discreta elegância das damas de outrora, de quem talvez ele tenha herdado o fino gosto pelas coisas bonitas do mundo.

Tem sido, desde os começos, um viajante e não um turista. Para ele, desbravar novos lugares tem sido uma forma permanente de educação. Não que tenha a compulsão dos globetrotters, pois não lhe interessa conhecer por conhecer, ir aos lugares apenas para poder dizer que já foi. Não. Suas viagens são de outro tipo. À badalação artificial de Dubai prefere a autenticidade de qualquer cidadezinha milenar da Itália, por exemplo. A quantidade de países e de cidades não é o que lhe importa,
mas a fruição detalhada e continuamente aprofundada de alguns lugares eleitos, como Paris e Londres, cidades de sua devoção, inesgotáveis mananciais de lições históricas e de experiências estéticas, sempre disponíveis para as novas descobertas culturais de quem tem olhos para ver e saberes para apreciar, como é o seu caso.

Sua facilidade para as línguas estrangeiras é outro de seus talentos que muitas portas lhe tem aberto pelo mundo afora. Essa aptidão é cultivada desde a juventude, quando estudou na Cultura Inglesa e na Aliança Francesa, instituições onde ensinou posteriormente. Isso também lhe facilitou, claro, fazer e manter amigos em outros países, o que é um achado para um viajante contumaz como ele.

Sua militância na crítica de artes plásticas ao longo dos anos tem proporcionado a oportunidade de conhecer os artistas locais, alguns dos quais se tornaram diletos amigos pessoais, a exemplo de Flávio Tavares, antiga admiração sua. Essa aproximação afetiva não interfere, evidentemente, em sua isenção profissional, razão pela qual é notória a credibilidade que conquistou.

Eudes Rocha Jr
Eudes é exigente, não só como crítico mas também nas relações com as pessoas. É correto e espera – até mesmo exige – que os outros ajam da mesma forma. Isso de vez em quando tem lhe causado contratempos, como seria de esperar. Porém, é o preço que ele tranquilamente paga por seus princípios inegociáveis.

Chegado agora aos gloriosos setenta anos, tem muito o que comemorar, pois a vida, feitas as contas finais, não lhe tem sido cauíra. Seus amigos, que são muitos, se unem nesta oportunidade emblemática para abraçá-lo com a efusão que merecem as pessoas especiais.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também