Nietzsche escreveu que, ao pensar em casar com alguém, deve-se antes fazer a pergunta: “Eu seria capaz de conv...

Conversa para passar o tempo

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Nietzsche escreveu que, ao pensar em casar com alguém, deve-se antes fazer a pergunta: “Eu seria capaz de conversar com essa pessoa pelo resto dos meus dias?” A observação é pertinente, pois a falta do que dizer e a indisposição para ouvir são indícios de desinteresse ou mesmo de saturação.

Acho, no entanto, que responder satisfatoriamente a essa pergunta não basta para que se garanta o sucesso da união matrimonial. Isso obviamente vale mais do que os predicados físicos, pois ninguém deve se casar atraído apenas por um rosto bonito, um corpo atlético ou roliço,
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Patricia Prudente
um jeito gracioso de sorrir. Esses atributos animam a paixão, mas são irrelevantes para um tipo de relacionamento em que os envolvidos se propõem a permanecer juntos e constituir uma família.

A resposta positiva à pergunta do filósofo também vale mais do que a condição econômica, embora o dinheiro tenha enorme importância por tornar de algum modo suportável a infelicidade. Mas a disposição para a conversa ou a alta condição social ainda são insuficientes, e a elas deve-se acrescentar um fator que também pesa: a genética.

Quem sai aos seus não se regenera, por isso é importante observar o perfil dos que têm o mesmo sangue do futuro esposo ou da futura esposa. O comportamento deles configura um modelo em que o noivo ou a noiva fatalmente se incluem. Afinal, são filhos do mesmo pai. Apesar da individualidade dos seus membros, toda família tem uma marca, e mesmo quem destoa do padrão apresenta algumas características comuns.

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Ransford Quaye
Até aí tudo parece claro, mas eis que surge outro problema: às vezes observar o perfil da família não basta. Os genes se distribuem aleatoriamente num mesmo grupo familiar. Entre irmãos há os preguiçosos e os operantes, os lentos (um eufemismo para depressivos) e os ágeis, os discretos e os adeptos do estardalhaço.

Há na distribuição dos genes um componente de transcendência, ditado pelo Acaso, e deve-se torcer para ser aquinhoado com a melhor parte. Disso pode depender a felicidade (ou não) de um casamento ou de outros compromissos que a gente deve assumir na vida.

E o amor? E a liberdade das nossas escolhas, que refletem nossos desejos? Isso não conta? Conta, e muito. Para que o casamento dê certo, é preciso que algo se contraponha ao que pode miná-lo devido às más predisposições dos noivos ou a outras circunstâncias adversas, e o amor tem nisso um papel muito importante.

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Denise e Chico Viana - 44 anos de casados Acervo do autor
Por ser um produto da nossa liberdade e se radicar nos obscuros domínios do inconsciente, ele pode promover a resistência ao que no parceiro (ou parceira) é motivo de contrariedade e decepção. Graças a ele vai-se poder reduzir os efeitos negativos dos genes não propícios ao bom entendimento do casal. O amor estimula a tolerância e concorre para a aceitação do outro.

A propósito: sobre o assunto desta crônica, conversamos eu e minha mulher. Nenhum dos dois chegou a uma conclusão (a que também não pretendo chegar agora), mas a conversa nos distraiu numa das inúmeras noites dos quarenta e quatro anos de casados.

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  1. Texto de mestre, Chico. E parabéns pela feliz longevidade matrimonial. Francisco Gil Messias.

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