Senhor Prefeito,
Quem te escreve é um filho ausente que muito admira a cidade onde nasceu.
Em mais de cinco décadas distante sem sair de perto, com saudades acumuladas, que aumentam a cada ano, desejo apenas saudá-lo, pensando na construção de sonhos, olhando para o passado vislumbrando o futuro com mais abundância. A nossa história será revivida na memória, nos passos de cada filho seu.
Ao final da década de 60 do século passado, inexplicavelmente, um dos mais belos patrimônios de Serraria foi destruído. A praça de beleza colossal era circundada por palmeiras imperiais, o coreto era lugar de nossas diversões, recanto para o namoro de casais e pouso de sonhos. Esta riqueza foi transformada em poeira e saudades, restando apenas o retrato amarelado.
Desta praça e do seu entorno, com casas de imponentes fachadas, ostentando arquitetura neoclássica, ficou na parede o retrato do alto das serras em redor da cidade, onde muitas palmeiras completavam o cenário aprazível.
Serraria (PB) Acervo do autor/Nemésio Cavalcanti
Tudo perdeu a graça, a fotografia desbotou. Ainda recordamos as noites enluaradas, os olhares fortuitos se cruzando na paisagem da memória, testemunhados pela brisa dos canaviais, sem perceber os acenos das quatro palmeiras em torno do coreto.
A sombra do imponente templo dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, com sua torre a elevar aos céus os clamores e pedidos de bençãos, cobria o coreto.
As retretas arrancavam aplausos nas tardes imaginárias, enquanto o sol amarelado se escondia por entre as serras que pareciam agarradas às nuvens. Em certas ocasiões, no coreto ornamentado de fitas e luzes, em campanhas políticas, oradores exaltavam a força e a bravura de nossos conterrâneos, em discursos que o vento espalhava sem chamar a atenção das crianças entretidas com a fuzarca de música patrocinada.
Compartilho essas lembranças com os que sentiram o prazer de estar naquele agradável ambiente, agora chamados a testemunhar tudo o que presenciaram como forma de resguardar a memória da cidade.
Enquanto lembramos das reformas antigas, a fotografia como registro na memória ajudará a praça e o coreto a não desparecer, esperando um dia renascer da poeira para as páginas de livros.
Senhor Prefeito, é uma sugestão, nada mais. Replanta as palmeiras, símbolo de nossa terra, e manda recuperar a vegetação nativa na beira dos riachos e córregos.
A Princesa do Brejo, como cantou a poetisa Eudesia Vieira, verso por mim utilizado como título de meu livro sobre a história de Serraria, tem belezas naturais exaltadas em poesia, nas artes e pelos visitantes. Revestir os arredores com palmeiras – símbolo da terra –, com plantas nativas e canteiros de flores, quem sabe roseiras, encheriam nossos olhos e a alma de jubilo. A preservação do patrimônio imaterial, as manifestações tradicionais e o calor humano são as riquezas de Serraria.
Este gesto e outros que certamente virão com a arquitetura que resta, nossa cidade continuará a ser um ambiente harmonioso e, assim, os olhares encontrarão a poesia e o deleite da alma será completo.
Berço de homens e mulheres que conquistaram espaços na cultura, na política, na medicina, no direito e outros ramos do conhecimento, nesta terra brotaram intelectuais que se destacaram nas artes e nas letras. Nomes de elevada expressão intelectual, que elevaram nossa terra em outras paisagens, são merecedores de nossos honrosos aplausos.
Se pouco colaboro enquanto cidadão, Senhor Prefeito, muito me empenho em estimular o acesso ao livro, ponto de partida para a construção do maior patrimônio humano e fonte de preservação da história e memória.
José Nunes