É importante tanto para o estudante quanto para o professor mudar a forma como se voltam ao texto. Não tratar o momento de analisar o texto produzido como uma “correção”, mas como uma avaliação, haja vista que a noção de erro traz consigo a ideia da incapacidade de escrever. O que ocorre é um processo do ensino-aprendizagem, que se desenvolve à medida que o estudante vai se apropriando das estruturas e peculiaridades do texto, contemplando regras de norma-padrão,
as quais devem ser revisadas, sem – no entanto – se limitar a esse aspecto.
Assim, propõe-se que a cada avaliação o/a professor/a escolha qual aspecto deve ser avaliado naquele momento, para o processo avaliativo ser proveitoso. Deve-se evitar comentários genéricos nas produções textuais, como: “sem coesão”, “sem coerência”, “texto prolixo”, “argumentação superficial”. Isso pouco ou nada diz ao estudante, sem que ele tenha real noção dos conceitos. É preciso deixar claro aos alunos não só o que, mas o como fazer para que seu texto atenda adequadamente aos critérios de textualidade.
Ademais, acreditamos na reescrita como o momento imprescindível para que o estudante possa rever o seu texto a partir dos destaques realizados pelo/a professor/a e para que ele mesmo possa refletir sobre as diversas possibilidades de escrita do texto. Assim, a produção de textos no ambiente escolar não se reduz a um produto que não mais será visto, limitando-se a uma “correção” unilateral. A reescrita é a oportunidade de refletir sobre a estrutura e o conteúdo do texto.
Percebemos que, quando esse trabalho não é realizado, o estudante mal observa os apontamentos realizados pelo/a docente, guardando a folha da produção no caderno. Não é simplesmente passar a limpo, porque houve borrões ou desvios de norma-padrão. A escritora Cris Reis no livro Autoria criativa: por uma pedagogia da escrita criativa explica o processo de reescrita: “É a chance de colocar ali naquela folha em branco outras palavras que expressem quem você é e não o que outras pessoas dizem que você é. É a hora de identificar palavras, cortar algumas outras, sentir como o texto é construído por meio da sua escolha linguística consciente”.
O processo precisa ser contínuo, sistemático e metódico, sem a ilusão de que será fácil. Será árduo, e melhor que assim seja apresentado, porque não cria no estudante a ideia de que antes de ser difícil tem que ser prazeroso. Escrever “dói”, porque refletir requer esforço, cogitação e recogitação. É lidar com estratégias que são constantemente modificadas, a fim de que se possa atender a objetivos de expressão. Se não considerarmos que o ensino de produção textual seja pensado de modo a mobilizar conhecimentos diversos, pautado em redigir gêneros textuais diversos, continuaremos a nos deparar com estudantes universitários, incluindo os graduandos em Letras e Jornalismo, escrevendo textos repletos de problemas estruturais e gramaticais que deveriam ser inadmissíveis a quem concluiu a Educação Básica.
No que diz respeito ao trabalho referente às práticas de análise linguística/semiótica, é preciso que o exercício pedagógico no qual seja contemplado o desenvolvimento de habilidades relacionadas aos eixos escrita, leitura, oralidade e escuta. A partir desses quatro pilares, espera-se que o estudante seja capaz de reconhecer e analisar mecanismos textuais, pragmáticos e discursivos e, por conseguinte, seja considerado um usuário proficiente da Língua Portuguesa.
Consideramos imprescindível e inadiável a articulação entre essas partes, pois, segundo Luna e Lima (2021, p.141): “Essa articulação parte da ideia de que os usos linguísticos são materializados na leitura e na produção oral e escrita; portanto, ao mesmo tempo em que se ensina a ler, a escrever e a falar, ensina-se também a refletir sobre a língua”. Dessa forma, acreditamos que o desempenho dos estudantes nos demais processos de ensino-aprendizagem será mais exitoso.
Para que o trabalho com Produção textual seja proveitoso, é necessário estabelecermos a concepção interacional de escrita. Essa concepção aponta a produção textual como um processo no qual deve haver uma interação entre sujeitos. Desse modo, entendemos que o professor terá papel de orientador nas práticas enunciativas do estudante. Com isso, não queremos dizer o que o estudante não terá autonomia nesse processo, esta deve existir, considerando sua subjetividade e o caráter autoral que almejamos que os textos dos discentes tenham.
Todavia, é imprescindível a mediação do professor como o responsável por avaliar se o texto produzido atente aos propósitos comunicativos, bem como aos aspectos linguístico-gramaticais, conforme a gramática padrão da língua portuguesa. A avaliação visará analisar os avanços na produção textual do estudante, não apenas os erros. Júnior e Carvalho (2015) têm essa compreensão do texto como instrumento para o desenvolvimento de habilidades e estratégias particulares, dentre as quais destacam:
(a)redigir – incluídas as habilidades específicas e as correlatas;
(b) ler – o que se escreve e o que os outros escrevem, criticamente, o que também pressupõe domínio de habilidades;
(c) analisar a gramática – do próprio texto e de textos alheios;
(d) expressar-se oralmente – lendo o texto produzido e comentando os alheios;
(e) respeitar – os outros autores, suas ideias e seu trabalho;
(f) cooperar – com a produção e na apresentação do texto alheio e aceitar cooperação na produção e na apresentação do próprio;
(g) dialogar, discutir, debater – todos os aspectos presentes no próprio texto e no texto de outrem.
(b) ler – o que se escreve e o que os outros escrevem, criticamente, o que também pressupõe domínio de habilidades;
(c) analisar a gramática – do próprio texto e de textos alheios;
(d) expressar-se oralmente – lendo o texto produzido e comentando os alheios;
(e) respeitar – os outros autores, suas ideias e seu trabalho;
(f) cooperar – com a produção e na apresentação do texto alheio e aceitar cooperação na produção e na apresentação do próprio;
(g) dialogar, discutir, debater – todos os aspectos presentes no próprio texto e no texto de outrem.
Júnior e Carvalho, 2015, p .20
Este método visa descontruir a ideia do texto como um produto, que durante muito tempo no âmbito escolar recebeu o nome genérico de redação, por vezes se resumindo ao texto dissertativo-argumentativo, haja vista a cobrança dessa tipologia textual nos principais processos seletivos brasileiros. Na proposta deste componente, objetivamos que o texto do estudante seja produtivo considerando contextos reais de comunicação e que o canal de comunicação não se limite ao caderno. Ou seja, esperamos que os textos produzidos circulem e, na medida do possível, seja lido pela comunidade escolar (pais, alunos, estudantes, professores e gestores).
Esperamos que, ao final da Educação Básica, nossos estudantes sejam capazes de escrever gêneros textuais diversos, enfrentando diferentes situações comunicativas, com adequados registros linguísticos, considerando o interlocutor a que destinam seus textos, seja em aspectos mais pragmáticos, seja em circunstâncias em que a criatividade e a arte predominem. Independente do contexto, prezamos pela liberdade, como também pela responsabilidade, na medida em que o estudante deve ser protagonista, assim refletindo em seu desempenho escolar e, posteriormente, profissional.