Sou pedra
Afundada
Na memória
Pedra
De funda
Perdida
Caça
Livre
Voa
E a pedra de
Funda
Repousa
Viva o sol da manhã
Viva o bem-te-vi
Vivo nas flores
Voou a luz
Lilás
E eu
Na ponta do arco-íris
Pote de Oxumaré
Voou o tempo de ser
E fui
Por todo esse tempo
Asas abertas
Pouso no amor
Doeu sim
Lembrar
O que já foi
Uma cerveja
Lá em Zé Maria
E uma multidão de amores
O Costa e Silva
"Let's go Daniela"!
E esse calor
Merece uma cerveja
Merece uma volta
Ao passado
Para recolher
Tanta história
Reluz em mim
Mural de amores
E a paz de ter sido
Ontem
Assim é mais fácil
Ser hoje
Na hora de lembrar
E tornar a lembrança
Em alegria
Uma cerveja sim
Porque
A morte
É certa como eu
Como eu!
Esquecer...
Como?
Ainda está sob a luz
O corpo que desejo
Ele tenro
Doce
Convite para a cópula
Eu desfigurado
Velho
Sim, velho sem pudor
De ser velho
Mas sabendo que sou
Ele
O corpo jovem
Uma miragem e eu que
Suspendo a mão e a desço
Vertigem em minha alma
Me acuda Virgílio:
Oh Coridon
Ainda que eu não tenha
Presentes a te dar
Mas Coridon:
Delícia do seu dono
Coridon escravo
Escraviza Virgílio
Com sua tez
E com a liberdade de dar o seu amor
A quem Ele quiser
Eu
Desfigurado
Velho
Só dou o meu amor
A quem eu quiser
Coridon de porcelana
Desejo de Virgílio
Seu escravo
Renegou as cabras
E seu precioso leite
Coridon
Amava a Liberdade
Que Virgílio
Dono de Coridon
Não sabia ter
Já sou Virgílio
Decomposto
E meu Coridon
Degenorou-se em álcool
E solidão
Morreu
Tenho a bula
Olho a causa
E a prescrição
Eu já sei
Eu que devo saber
Se anuncio ou outro dia
Porque só acordo
Às 10 da manhã
No vitral da noite
Armazeno os meus comprimidos
São senhas
Uma também pra dormir
Outra pra não morrer de
Infartado
Outra para matar
A saudade dos meus irmãos que morreram
Deixo de lado a ilusão
E só sonho com um Céu
Que possa arrastar
Os meus ferros
Tenho muitos
Todos à mão e mutilados
Frutos das guerras que nunca fui
E me impuseram
Uma bomba há de cair
No acaso dos Deuses ociosos
E eles compreenderão
Que nós somos eles