Recebo, com incontida emoção, questionário de um aluno conterrâneo, desejoso de saber acerca da minha iniciação literária, quando publiquei a primeira crônica e o primeiro livro.
As perguntas sobre duas datas emblemáticas me fizeram recordar os momentos de olhar meu nome impresso no jornal e na capa de livro. A alegria de ver a obra publicada foi semelhante à que sentia quando nasciam os meus filhos. Todo escritor sente prazer em ter seu livro exposto nas livrarias, voando para lugares distantes.
Recordei isso durante aula sobre o mundo poético de Augusto dos Anjos, quando o professor Milton Marques Júnior revelou que o texto publicado não mais pertence ao autor, mas ao mundo, à língua na qual foi escrito. A mão que escreve é a mesma que dá adeus à obra literária, seja ela maior, seja menor quanto ao acolhimento pelos leitores. Mas tudo é fruto dos saberes, da criatividade e da imaginação.
Se não controlamos o destino do texto, fica conosco o prazer do processo da escrita. Ainda mais, vendo-o impresso, lhe creditamos amor, como ao filho bem amado. Senti isso quando, no dia 4 de fevereiro de 1975, publicado no jornal O Norte, saiu texto primogênito. Uma crônica de saudade que recordava um amanhecer em Serraria, entre muitos que vivi, inesquecíveis, porque ali as noites e as auroras têm a marca inapagável da natureza.
Outro momento de idêntica emoção aflorou em 1994, ao lançar o livrinho de poemas – Lira dos 40 anos – que visava, como o próprio nome indica, marcar a passagem das quatro décadas de vida.
O lançamento aconteceu no terraço lúdico da Associação Paraibana de Imprensa, momento em que esta instituição vivia o apogeu de sua militância, mantendo viva a chama de décadas passadas, quando seu auditório era espaço obrigatório para anúncio dos novos gestores públicos e eventos de porte cultural.
O pequeno conterrâneo anônimo tinha ouvido falar de que eu publicava livros. As suas perguntas chegaram a mim pelo correio eletrônico, certamente estimulado pela professora. E elas me tocaram-me profundamente.
Escrever é como absorver a brisa da manhã em qualquer estação do ano, sobretudo na Primavera, estação das folhas e das flores novas.
A produção de poesias chegou a mim como benevolência Divina para revelar os sentimentos guardados. Ao tempo que exercitava a pesquisa histórica para documentar o passado de minha terra, caminho mais fácil para o exercício da escrita, a poesia e a crônica chegaram como antídoto para suprir a ansiedade de expressar sentimentos e ideias.
Recorro a Aristóteles. Na boca de um sábio contemporâneo de Tucídides, ele colocou a seguinte frase:
“A poesia é mais filosófica e mais verdadeira que a história, pois exprime o universal, ao passo que a história exprime o particular.”
Para o pequeno conterrâneo, ressalto que a poesia salva vidas, como salvou a minha. Para viver e escrever em estado de poesia, é preciso estar em harmonia com a Natureza, não provocar discórdias entre os seres invisíveis do Cosmos. Os sonhos devem entrar na gruta do universo, se misturar na paisagem da atmosfera da mente e do coração. O poeta deve estar em permanente estado de inocência para viver a poesia que está ao seu redor.
Quando você crescer, vai entender isso – eu disse para ele.
Desejo muito que você, pequeno amigo de Serraria, se encante com os livros, sonhe com os poetas e penetre no mundo dos romancistas e dos poetas. Um dia, você também sonhará com datas emblemáticas que marcarão sua vida.