Recebo, com incontida emoção, questionário de um aluno conterrâneo, desejoso de saber acerca da minha iniciação literária, quando ...

Datas simbólicas

primeiro livro lira 40 anos
Recebo, com incontida emoção, questionário de um aluno conterrâneo, desejoso de saber acerca da minha iniciação literária, quando publiquei a primeira crônica e o primeiro livro.

As perguntas sobre duas datas emblemáticas me fizeram recordar os momentos de olhar meu nome impresso no jornal e na capa de livro. A alegria de ver a obra publicada foi semelhante à que sentia quando nasciam os meus filhos. Todo escritor sente prazer em ter seu livro exposto nas livrarias, voando para lugares distantes.

primeiro livro lira 40 anos
Milton Marques Acervo pessoal
Recordei isso durante aula sobre o mundo poético de Augusto dos Anjos, quando o professor Milton Marques Júnior revelou que o texto publicado não mais pertence ao autor, mas ao mundo, à língua na qual foi escrito. A mão que escreve é a mesma que dá adeus à obra literária, seja ela maior, seja menor quanto ao acolhimento pelos leitores. Mas tudo é fruto dos saberes, da criatividade e da imaginação.

Se não controlamos o destino do texto, fica conosco o prazer do processo da escrita. Ainda mais, vendo-o impresso, lhe creditamos amor, como ao filho bem amado. Senti isso quando, no dia 4 de fevereiro de 1975, publicado no jornal O Norte, saiu texto primogênito. Uma crônica de saudade que recordava um amanhecer em Serraria, entre muitos que vivi, inesquecíveis, porque ali as noites e as auroras têm a marca inapagável da natureza.

Outro momento de idêntica emoção aflorou em 1994, ao lançar o livrinho de poemas – Lira dos 40 anos – que visava, como o próprio nome indica, marcar a passagem das quatro décadas de vida.

primeiro livro lira 40 anos
O lançamento aconteceu no terraço lúdico da Associação Paraibana de Imprensa, momento em que esta instituição vivia o apogeu de sua militância, mantendo viva a chama de décadas passadas, quando seu auditório era espaço obrigatório para anúncio dos novos gestores públicos e eventos de porte cultural.

O pequeno conterrâneo anônimo tinha ouvido falar de que eu publicava livros. As suas perguntas chegaram a mim pelo correio eletrônico, certamente estimulado pela professora. E elas me tocaram-me profundamente.

Escrever é como absorver a brisa da manhã em qualquer estação do ano, sobretudo na Primavera, estação das folhas e das flores novas.

A produção de poesias chegou a mim como benevolência Divina para revelar os sentimentos guardados. Ao tempo que exercitava a pesquisa histórica para documentar o passado de minha terra, caminho mais fácil
para o exercício da escrita, a poesia e a crônica chegaram como antídoto para suprir a ansiedade de expressar sentimentos e ideias.

Recorro a Aristóteles. Na boca de um sábio contemporâneo de Tucídides, ele colocou a seguinte frase:

“A poesia é mais filosófica e mais verdadeira que a história, pois exprime o universal, ao passo que a história exprime o particular.”

Para o pequeno conterrâneo, ressalto que a poesia salva vidas, como salvou a minha. Para viver e escrever em estado de poesia, é preciso estar em harmonia com a Natureza, não provocar discórdias entre os seres invisíveis do Cosmos. Os sonhos devem entrar na gruta do universo, se misturar na paisagem da atmosfera da mente e do coração. O poeta deve estar em permanente estado de inocência para viver a poesia que está ao seu redor.

Quando você crescer, vai entender isso – eu disse para ele.

Desejo muito que você, pequeno amigo de Serraria, se encante com os livros, sonhe com os poetas e penetre no mundo dos romancistas e dos poetas. Um dia, você também sonhará com datas emblemáticas que marcarão sua vida.

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