A ideia deste texto me veio dormindo. Surgiu, portanto, de um sonho. Não se trata de ficção ou de artifícios para pegar o leitor, c...

Sabatina sobre a Ilíada

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A ideia deste texto me veio dormindo. Surgiu, portanto, de um sonho. Não se trata de ficção ou de artifícios para pegar o leitor, como os manuscritos misteriosos, que chegam às mãos de determinados autores e estes só têm o trabalho de transcrevê-los ou editá-los. No sonho, encontrava-me ao redor de uma mesa, com alguns colegas, e o debate encaminhou-se para a Ilíada. Em meio à discussão, tive a ideia de pôr ordem no caos que ali se instalara. Propus apresentar a Ilíada de forma didática, a partir de perguntas dos colegas ali presentes, de forma que se pudesse criar um pensamento sequencial, funcionando como uma introdução ao monumental texto homérico. Também impus uma condição: isso só funcionaria se eles me escutassem, pois as intervenções e objeções se faziam sempre antes de que eu pudesse terminar algum argumento.

Como acordei antes de as questões serem formuladas, decidi apresentá-las eu mesmo. Falou mais alto, claro, a minha formação de professor. Eis as perguntas iniciais:

1A Ilíada é um épico?
2O que é ser herói?
3O que é a Bela Morte?
4O que significa a afirmação de que a Ilíada é um poema aristocrático?
5De que trata a Ilíada?
6Quais os limites da Ilíada?
7Quais os versos marcantes para o reconhecimento e compreensão desses limites?
8Durante quanto tempo a narrativa se desenrola?
9A batalha entre gregos e troianos se estende por quantos dias, no poema?
10Qual o perfil de Aquiles na Ilíada?
11Quantas são as Invocações na Ilíada?
12No poema, explica-se a origem da guerra de Troia?
13Na Ilíada, Troia é destruída?
14Vê-se a morte de Aquiles, no contexto do poema?
15A Guerra de Troia existiu de fato?
16Qual a diferença entre a Ilíada e a Guerra de Troia?
17Por que se diz que a Ilíada é uma Teomaquia?
18Qual a função do epíteto, no poema épico?
Adianto que cada questão dessa abre espaço suficiente para que se defenda um artigo alentado, uma monografia ou, no seu limite, uma tese. O que propomos ao leitor são respostas rápidas, que possam nortear a sua leitura do poema. Sem o conhecimento do poema, pouco ou quase
guerra troia iliada homero
nada se aproveitará dos esclarecimentos que aqui venham a ser feitos. Iniciemos.

1. A Ilíada é um épico?
Sim, a Ilíada é um poema épico, porque trata de ações grandiosas, realizadas por heróis, segundo a definição de Aristóteles, na Poética, “homens melhores do que nós”, no sentido da perfeição moral, imunes à queda trágica. Ou melhores, no sentido de Homero, porque capazes de realizar feitos que um homem comum, “um homem dos nossos dias, não conseguiria”. Diomedes, por exemplo, na sua impetuosidade no campo de batalhas, é apresentado como “um rio de torrente invernosa, rompendo diques e barreiras, cujo volume caudaloso é engrossado pelas tempestades que vêm de Zeus” (Canto V, versos 85-94).

2. O que é ser herói?
Na definição de Hesíodo, no poema Trabalho e dias, o herói é um semideus, tendo em vista que ele descende da união de uma divindade com um ou uma mortal. O herói surge no episódio das 5 raças humanas, entre a raça de Bronze e a de Ferro, com o intuito de coibir a injustiça e a desmedida, a hýbris (ὕβρις), um dos conceitos fundamentais, no mundo grego,
Zeus pesando o destino do Homem
envolvendo a epopeia e a tragédia. Mesmo quando o herói não é descendente direto, vê-se na sua genealogia a presença de uma divindade. Por isso, vemos, como uma tópica da épica, os heróis, quando não se conhecem, desfiando as suas genealogias, antes dos principais confrontos. Ser um semideus, no entanto, é dos pré-requisitos. Há muitos outros, como escapar a um perigo, fazer uma viagem iniciática, retornar para combater o inimigo ou o perigo, vencê-lo e firmar-se como herói. Nesse caso, o primeiro herói é Zeus, pois todos esses passos se encontram na Teogonia, outro poema de Hesíodo. O herói deve ser reconhecido pela sua aristeia (ἀριστεία), a sua excelência guerreira, cujos feitos na batalha são ditados pela sua areté (ἀρετή), a virtude guerreira, distinguindo-o com o geras (γέρας), o melhor dos prêmios, e lhe concedendo a timé (τιμή), a honra. Sem esses atributos, não existe o herói, nem ele alcança a glória imperecível (κλέος ἄφθιτον, Ilíada, IX, v. 413).

3. O que é a Bela Morte?
Encontra-se nesse conceito a conclusão do ciclo humano do herói. Só ao herói cabe a Bela Morte (καλός θάνατος, verso 73), definição dada por Príamo, rei de Troia e pai de Heitor, no Canto XXII da Ilíada, antes de ver o filho ser morto por Aquiles. O herói não deve morrer velho, em seu leito de morte, ou de maneira desrespeitosa, mas no vigor da juventude e em plena batalha, de preferência, batalha singular.
O funeral de Pátrocles
Desse modo ele atingirá o estágio final de seu ciclo, a divinização, concedendo-lhe a imortalidade. Parece paradoxal dizer que o herói só se imortaliza, quando morre, atingindo, assim, a glória imperecível. No contexto do poema, por exemplo, só dois grandes heróis têm direito à Bela Morte, o grego Pátrocles e o troiano Heitor.

4. O que significa a afirmação de que a Ilíada é um poema aristocrático?
Muita gente recorre a essa afirmação como uma forma de menosprezar o poema, tomando o conceito de aristocracia, à maneira francesa, de nobreza de sangue e de riqueza material, vigente até o século XIX. Na realidade, o conceito de Aristocracia deve ser o grego, significando “governo dos melhores”. Os melhores, no entanto, não são os ricos ou de linhagem nobre, mas aqueles que foram educados, num sistema comum, para fundir em si o guerreiro e o filósofo, como idealiza Platão, na República. O Estado, portanto, deve ser liderado por um aristocrata que reúna conhecimento e força, para defendê-lo contra os inimigos, com sabedoria e energia. Os heróis da Ilíada são todos reis, liderando os seus guerreiros.

Heitor despede-se de Andrômaca
5. Qual o perfil de Aquiles na Ilíada?
Aquiles é, no contexto da Ilíada, aquele a quem cabe a honra guerreira, ao contrário de Agamêmnon, a quem cabe a honra social. Homero define Aquiles, desde o início do poema, como “o melhor dos Aqueus” (ἄριστος Ἀχαιῶν), no sentido de não existir, entre os Aqueus, nome genérico para os gregos, um herói como ele. Guerreiro eficiente, Aquiles, provoca uma carnificina (Cantos XX-XXI), entre os troianos, quando decide retornar à guerra (Cantos XVIII), de modo a vingar a morte do seu amigo dileto, Pátrocles, nas mãos de Heitor (Canto XVI). Com a morte de Heitor por Aquiles (Canto XXII), fica claro o epíteto homérico – o herói, sozinho, faz recuar o exército
Aquiles derrota Heitor
troiano comandado por Heitor, feito que não conseguiram Ajax, Odisseu, Menelau e Agamêmnon, liderando os seus guerreiros (Cantos XI-XVIII).

6. Por que se diz que não há gregos, na Ilíada?
Chamar gregos aos vários heróis, oriundos de cidades-estados diferentes, é bem mais fácil. No entanto, a homogeneização, na Ilíada, trata-os como Acaios, Argivos e Dânaos. Os dois primeiros nomes têm origem geográfica, designando as regiões mais antigas do mundo helênico, no Peloponeso; o terceiro tem origem patronímica, sendo Dânaos, um dos ancestrais dos helenos. O poema se desenrola, por volta do século XII a. C., embora tenha sido criado, cerca do século VIII a. C., época em que ainda não havia um sentido de mundo grego ou pan-helênico, criação posterior, a partir do século V a. C. Cada um dos reis chefia o seu povo, como Aquiles chefia os Mirmidões, mas todos estão sob a governança do argivo Agamêmnon, o rei dos reis, o “senhor dos heróis”, no dizer de Homero ( Ἄναξ ἀνδρῶν).

A ira de Aquiles contra Agamêmnon
7. De que trata a Ilíada?
A ilíada trata da fúria funesta de Aquiles. Tendo sido privado da sua honra por Agamêmnon, o herói se retira da guerra, provocando a morte de muitos heróis, tanto do lado grego, quanto do troiano. A sua fúria contra Agamêmnon ou contra Heitor é funesta, provocando muitas mortes e muita dor. Momentos marcantes de dor estão, por exemplo, no Canto XXII, em que se expõe a dor de Hécuba, Príamo e Andrômaca, pela morte de Heitor; e no Canto XXIV, quando se expõe o doloroso pedido de Príamo a Aquiles, para levar o cadáver do filho, de modo a conceder-lhe as devidas honras fúnebres.

Príamo suplica que Aquiles entregue o corpo de Heitor
8. Quais os limites da Ilíada?
Os limites do poema homérico são marcados por dois fatos: o primeiro no Canto I, quando se dá a querela entre Aquiles e Agamêmnon, cujo resultado é o maior dos heróis ser privado de sua honra, ao lhe ser retirado o seu prêmio de guerra, o géras, no caso, a escrava Briseida, por Agamêmnon. Independente de Aquiles amar ou não Briseida, ele se retira da guerra por ter sido desonrado.

O segundo limite é marcado pelos funerais de Heitor, o que ocorre no Canto XXIV.

Andrômaca em luto por Heitor
9. Quais os versos marcantes para o reconhecimento e compreensão desses limites?
No caso da querela entre os dois maiorais, o que detém a honra social, Agamêmnon, e o que detém a honra guerreira, Aquiles, os versos marcantes são o 1 e o 2, no Canto I, que encerram a Invocação e a Proposição:

Canta, Deusa, a fúria do Pelida Aquiles, Funesta, que muitas dores trouxe aos Aqueus.

No que diz respeito aos funerais de Heitor, o verso marcante é o 804, no Canto XXIV, determinando o final da narrativa:

E assim foram os funerais de Heitor, domador de cavalos.

O funeral de Heitor
Ao leitor, cabe se embrenhar no miolo do poema, ao longo de quase 15000 versos, para saber os detalhes que ligam o início e o fim.

10. Durante quanto tempo a narrativa se desenrola?
A narrativa se alonga por um período de cerca de 60 dias, entre o desentendimento inicial, envolvendo Aquiles e Agamêmnon, e os rituais dos funerais de Heitor.

11. A batalha entre gregos e troianos se estende por quantos dias, no poema?
É um tanto difícil precisar, mas se formos computar os dias de enfrentamento entre gregos e troianos, muito dificilmente o limite passará de 5 dias, que podem ser sintetizados da seguinte maneiro: início dos combates (Canto IV), estendendo-se até a paralisação para honras fúnebres aos guerreiros de ambos os lados (Canto VIII).
Hefestos forja armas para Aquiles
Reinício dos combates (Canto XI), ainda sem a participação de Aquiles. Quando Aquiles sabe da morte de Pátrocles (Canto XVI), ele decide retornar à guerra, para vingar o amigo. Há uma pequena pausa, tendo em vista a comoção do herói e a necessidade de se forjarem novas armas, vez que as suas, usadas por Pátrocles, foram espoliadas por Heitor. Com as novas armas, forjadas por Hefestos (Canto XVIII), Aquiles retorna à guerra e sua participação é funesta para os troianos (Cantos XIX-XXI), culminando com a morte de Heitor (Canto XXII), o que determina o fim dos combates, na Ilíada, mesmo faltando ainda dois cantos.

12. No poema, explica-se a origem da guerra de Troia?
Não se explica a origem da guerra de Troia, na Ilíada. Não é o objetivo de Homero. O objetivo encontra-se na Proposição do poema – cantar a fúria funesta de Aquiles. Tendo o herói aplacado a sua fúria, com a vingança da morte de Pátrocles, não há porque continuar com a narrativa. Algumas pistas sobre essa origem são dadas no decorrer da narrativa, sendo a melhor a que se encontra no Canto III, quando se dá o combate singular entre Páris e Menelau e se esclarece que o motivo da guerra é o rapto de Helena por Páris. Cabe ao leitor ir juntando as peças, ao longo do poema, para tentar saber mais a respeito do que ali acontece.

O rapto de Helena
13. Na Ilíada, Troia é destruída?
Não, apesar de se anunciar a sua destruição. Se a guerra foi por causa do rapto de Helena, a destruição da cidade foi por ofensa a Zeus, o deus da hospitalidade. Páris, como hóspede de Menelau não poderia ter infringido a lei da hospitalidade, comandada por Zeus-hospedador. Quem quiser saber como Troia foi destruída, deve ler o Livro II da Eneida, de Virgílio, no qual o fato é narrado minuciosamente.

14. Vê-se a morte de Aquiles, no contexto do poema?
Também não se vê, na Ilíada, a morte de Aquiles, apesar de ela ser exaustivamente anunciada. O anúncio mais completo é feito por Heitor, antes de dar o seu último suspiro e morrer pelas mãos de Aquiles: o herói será morto por Páris e Apolo, diante das portas Ceias, de Troia (Canto XXII, versos 358-360).
Thétis entrega armas a Aquiles
Diga-se que Aquiles é o único herói, entre os exércitos gregos e troianos, que sabe que vai morrer. E não só sabe, ele deseja a sua morte. O motivo de Aquiles chorar, diante de sua mãe, a Nereida Thétis, depois que Agamêmnon lhe retira o seu prêmio de guerra, Briseida, não é pela mulher perdida, mas pela honra que lhe foi arrancada. Um herói não pode morrer desonrado.

15. A Guerra de Troia existiu de fato?
Existiram, de fato, muitas guerras em Troia. Nenhuma, contudo, como a relatada por Homero, pelo simples fato de que a guerra homérica é um poema, uma ficção. Há evidências arqueológicas, na parte ocidental da Turquia, em Hirsalik, de nove Troias destruídas e superpostas. A que mais se assemelha à homérica é a Troia VII. Pela posição estratégica que ocupava, no Estreito de Dardanelos, dando acesso ao Mar de Mármara e, em seguida, ao Mar Negro, através do Estreito de Bósforo, e pelas riquezas que acumulava, Troia deve ter acumulado muitos inimigos e enfrentado muitas guerras.

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Possível localização de Troia, na atual Turquia
16. Qual a diferença entre a Ilíada e a Guerra de Troia?
A Guerra de Troia é um assunto bem mais amplo, que não cabe totalmente dentro da Ilíada. Homero é grande poeta, conforme acentua Aristóteles na Poética, porque não tem a intenção de narrar tudo. A ilíada é uma particularidade dentro da Guerra de Troia, que ocorre num período de cerca de 60 dias, no início do décimo ano do cerco dos argivos à cidadela de Príamo.

17. Por que se diz que a Ilíada é uma Teomaquia?
Teomaquia seria uma das definições clássicas da Ilíada, tendo em vista que os deuses tomam partido na guerra, escolhendo entre apoiar gregos ou troianos. A palavra teomaquia é de origem grega, significando “guerra dos deuses”.
Atena incentiva Diomedes na Guerra de Troia
Até o Canto VIII, os deuses tomam partido declarado na batalha. Atena, por exemplo, enche Diomedes de coragem, no Canto V, para que ele combata com ardor, dando-lhe o direito de ferir algum deus que esteja presente na batalha. Diomedes fere Afrodite e Ares. Com Aquiles fora da batalha, Zeus proíbe a participação divina na batalha, ainda que no Canto XIV, a proibição seja burlada por Hera, seduzindo Zeus, de modo a Posídon misturar-se entre os gregos, na tentativa de fazer os troianos liderados por Heitor recuarem. A liberação para intervir na batalha só é novamente concedida, após a volta de Aquiles à guerra. É entre os Cantos XX e XXII que se dá a verdadeira teomaquia.

18. Qual a função do epíteto, no poema épico?
O epíteto teria várias funções. A mais citada é de ser um recurso mnemônico, ocupando, por vezes, metade de um hexâmetro (verso padrão da épica grega ou latina, com 6 pés, sendo o pé um conjunto de sílabas). O epíteto pode ainda ser importante para o ouvinte/leitor ter uma noção da importância do herói ou da região epitetada. Ele designa também a origem do herói. Assim, Aquiles é o Pelida, por ser filho de Peleu; Agamêmnon e Menelau são os Atridas, por serem filhos de Atreu. Vemos o epíteto também como o designador de uma popularidade do poema épico, tendo em vista que muitos são apresentados com os epítetos, antes de serem identificados pelos seus nomes. Veja-se o caso do Proêmio do poema (Canto I, versos 1-9), em que a primeira referência a Agamêmnon é como o “Atrida, senhor dos heróis” (verso 7);
Menelau e Helena
a primeira citação a Apolo é o “filho de Zeus e Latona” (verso 9). O aedo só teria condições de usar esse recurso, antes de citar o nome do herói ou da divindade, se o epíteto fosse de difundido conhecimento entre as pessoas.

As questões apresentadas foram respondidas de modo sucinto, com a intenção de orientar uma eventual leitura da Ilíada. Gostaria, no entanto, de ir além e fazer uma pequena reflexão. Em primeiro lugar, diria que a Ilíada é um poema épico sobre a honra. Uma pessoa desonrada não tem por que lutar. Aquiles lutou até o momento em que Agamêmnon, com sua prepotência, despojou-o de sua honra. Ele só retorna à guerra com a sua honra reconquistada, após Agamêmnon confessar, em assembleia, o seu erro.

Em segundo lugar, existem três motivações para a Guerra de Troia, que incita o poeta a narrar uma particularidade dentro de um tema mais amplo. A primeira motivação é de caráter histórico-geográfico. Situada em uma região estratégica, Troia enfrentará possíveis guerras, para ser destronada de uma situação tão privilegiada, quanto cobiçada. Em segundo lugar, há uma motivação poética, de se ir lutar contra um inimigo distante, com a intenção de resgatar uma esposa raptada – esta é a mais fraca de todas as motivações, e que, deliberadamente, induz muita gente ao erro. A terceira motivação é mítica. Troia foi erigida na Colina do Erro, tomando o nome de Tróade, oriundo de um ancestral dos troianos, Tros. Como se persistiu no erro, com a impiedade de Laomedonte, pai de Príamo, que não pagou os trabalhos devidos a Apolo e Posídon, construtores de suas muralhas, essa impiedade, somada à anterior, determinou a sua destruição. Em outras palavras, Troia seria destruída, mesmo que Helena não tivesse sido raptada.

O cerco de Troia
O erro de Páris foi a deixa para a destruição da cidade. Ofendendo a hospitalidade sagrada, Páris leva Troia a sua destruição. Daí, surge uma nova reflexão sobre o poema: o motivo mítico está intrinsecamente ligado à religiosidade do mundo em que ele foi criado. É impossível, portanto, fazer uma leitura de um poema épico, como a Ilíada, sem levar em conta a religiosidade e os elementos como métron (μέτρον), a medida, e hýbris (ὓβρις), o descomedimento.

Composta por homens, para falar de um mundo de guerras forjado por heróis, em busca de uma justiça divina, a Ilíada revela-se um poema seminal, em que se compreende que a honra é o que nos faz melhores, por estar relacionada a uma busca do inefável que se encontra no âmbito do mítico-divino, sem o que nada somos.

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  1. Mais uma vez o professor de escol pontifica. Beleza de texto, Milton, para gregos e troianos. Parabéns. Francisco Gil Messias.

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  2. Obrigado, Gil!

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