A estética da subjetivação do “cuidar de si” refere-se ao processo de constituição da pessoa, no qual ela desenvolve um senso de pertencimento por meio de práticas estéticas, éticas e políticas, influenciando a formação da subjetividade. Filósofos franceses como Michel Foucault (1926-1984) e Gilles Deleuze (1925-1995) contribuíram para os estudos sobre autocuidado, mostrando como ele se modifica ao longo do tempo, transformando os modos de pensar e de ser da existência humana. Esse processo envolve a interação da pessoa com a ética do cotidiano, priorizando a criação de valores próprios e a resistência contra normas e ideologias repressoras. Entre as principais características estéticas e subjetivas do “cuidar de si”, destacam-se:
◼️ Práticas de vida – São atitudes que demonstram a forma como a pessoa se relaciona com seu corpo, suas emoções, suas crenças, sua identidade e com os outros;
◼️ Formas de poder e resistência - Referem-se às influências sociais, culturais e políticas que tentam moldar a subjetividade, e às maneiras pelas quais a pessoa resiste, criando espaços de liberdade;
◼️ Autocriação – Refere-se à formação da subjetividade como um processo criativo contínuo, no qual a pessoa não é passiva diante das forças externas, mas ativa na construção do próprio senso estético de pertencimento, utilizando formas artísticas, éticas e espirituais para se reinventar.
Na filosofia de Gilles Deleuze, o conceito de “cuidar de si” é defendido por meio da criação de modos de existência e novas formas de subjetividade. Deleuze propõe que o autocuidado seja entendido como um processo de autocriação, vinculado à ética do devir e à resistência ao poder repressor. Diante disso, a pessoa está em constante transformação, buscando formas de existir que libertem aos controles e normas de uma sociedade repressora e de suas instituições coercitivas. Dessa forma, há a possibilidade de, continuamente, libertar-se dessas imposições sociais e criar novas formas de existência.
Para Deleuze, o “cuidar de si” está intimamente ligado à criação de singularidade, em vez de seguir modelos normativos. Não se trata de se ajustar a normas ou valores estabelecidos, mas de reinventar novas formas de viver e sentir, de estabelecer novas maneiras de se relacionar consigo mesmo, com os outros e com o mundo. Isso implica uma moral estética subjetiva e do risco, na qual a pessoa se insere em práticas que ampliam seu campo de ação e suas possibilidades de existência. Esse processo de autotransformação inclui o vir a ser, a liberdade e a resistência às normas impostas, permitindo a criação contínua de novos modos de vida e uma ética da diferença. No pensamento deleuziano, o "cuidar de si" está relacionado à liberdade criativa, e o autocuidado é uma prática dinâmica, gerado por múltiplas possibilidades. Ele se opõe a qualquer forma de aprisionamento identitário, seja moral, social ou política.
A estética subjetiva do "cuidar de si" também pode ser compreendida em termos psicanalíticos, especialmente em relação da pessoa com seu inconsciente. Desejos reprimidos, traumas e conflitos psíquicos e existenciais afetam - dolorosamente - à existência humana. O processo terapêutico ao trazer algumas dessas pulsões à consciência, a psicanálise possibilita a pessoa compreender melhor a si próprio, também os seus comportamentos e seus padrões emocionais. Considerando isso, a terapia é uma forma de autocuidado, pois promove autoconhecimento e auxilia no reconhecimento das tensões internas, permitindo uma melhor e maior integração entre os aspectos da personalidade. Esse aprendizado ajuda a pessoa a lidar com ansiedades e reduzir o sofrimento, contribuindo para uma existência saudável. Assim, a estética do “cuidar de si” conduz ao equilíbrio emocional, à autonomia, à felicidade e a melhor convivência social.